O QUE É A FAZENDA MÃE NATUREZA?
Localizada a 140 km de Aracaju, no Povoado da Saúde, município de Santana do São Francisco, Estado de Sergipe, a FAZENDA MÃE NATUREZA abriga a sede da Instituição Grande Síntese – Instituto Cultural para o Florescimento do Homem. Por se encontrar às margens do Rio São Francisco, oferece uma visão bastante agradável e ambiente favorável àqueles que desejam refletir sobre a preservação da vida e sobre a elevação do ser humano.
As atividades desenvolvidas na Fazenda têm por meta promover o florescimento integral das potencialidades humanas, segundo quatro pilares fundamentais: (1) não-ofensividade, (2) veracidade, (3) serviço impessoal para o bem comum e (4) contemplação, meditação sobre a natureza sagrada do ser em sua relação com o universo e entrega ao seu Onisciente Poder.
A Fazenda dispõe ainda de várias salas de reuniões; sala de vídeo; oficinas de madeira e móveis, gesso, cerâmica e de reciclagem; salão de cura; horta; ervanário; apiário; um teatro com 300 lugares, denominado “Teatro da Vida”, um campo de futebol com grama sintética e iluminação para jogos noturnos, uma pequena praia (Praia do Livramento) à margem do rio São Francisco e um conjunto de caiaques junto ao seu Lago Maior, situado em área de preservação ambiental.
OFICINAS EDUCATIVAS REALIZADAS NA FAZENDA MÃE NATUREZA
ARTES DA TERRA - CERÂMICA
A arte da cerâmica manifesta-se na cultura dos povos desde a mais remota antiguidade. O estudo das técnicas de fabricação e decoração dos objetos de cerâmica é tido como o "alfabeto" de arqueólogos e historiadores, pois fornece base segura para a reconstrução de muitos aspectos da vida de antigas civilizações.
Na Fazenda Mãe Natureza esta oficina ensina as técnicas de fabricação de vasos, utencílios e figuras do imaginário, incentivando a criatividade e a engenhosidade dos participantes.
O barro permite o movimento das mãos, e estas, como parte importante do processo de representação das imagens interiores tem seus movimentos orientados por forças inconscientes, como se algo, bem lá no fundo da pessoa, tivesse encontrado a oportunidade de se expressar.
Há momentos em que a pessoa percebe uma forma saindo de suas mãos que não esperava: surpreende-se ao perceber que há um movimento independente de sua vontade, que é maior do que seu ego e que se manifesta quando a atmosfera está aberta para receber. Isso aparece no trabalho com o barro.
O barro é a matéria-prima de onde tudo pode surgir. É o material básico que propicia a aproximação e a expressão do inconsciente, onde podemos plasmar conteúdos do aqui e agora, do ontem e do que virá. Abrir-se para o barro é abrir-se à possibilidade de transformação.
ESCULTURA EM MADEIRA
A madeira é, desde tempos imemoriais, um suporte onde os homens expressam suas idéias, seus desejos, sua fé.
A grande variedade disponível de cores da madeira pode ser explorada nos entalhes de um artista. É um trbalho cujo propósito é dar vida a uma determinada figura ou idéia transformando-a em auto-relevo.
Esta arte ensina concentração, paciência, além de revelar a cada um seu potencial criativo, ajudando no processo de resgate de si mesmo.
MÓVEIS RÚSTICOS
Em tempos de aquecimento global a preocupação com o meio ambiente se tornou mais evidente, ou pelo menos mais comentada entre todos nós. O uso de madeira bruta para a fabricação de móveis rústicos alia muitos fatores que envolvem a preservação ambiental, o consumo consciente e a valorização da mão de obra local.
A produção de móveis rústicos ajuda os participantes a desenvolver, além do senso ecológico, as habilidades de resolução de problemas práticos (dado que se faz necessário para encontrar saídas que amenizem a desproporção das peças usadas na confecção dos móveis), dando-lhes a oportunidade de aprendizado de uma profissão muito valorizada que é a boa carpintaria.
RECICLARIA NOVO DE NOVO
Nesta oficina trabalhamos com o reaproveitamento de diersos materiais: madeira de demolição, retalhos de tecidos, bijouterias usadas, embalagens, ferragens, tubos, sobras de um mundo de consumo inconsequente, restos de uma sociedade doente e marcada pelo desejo de ter tudo, para em seguida descartar com facilidade qualquer objeto que perca o brilho.
Pautados pela filosofia de uma vida simples, pelo cuidado com o planeta e consciente do espólio que se pratica com seus recursos, confeccionamos móveis e peças decortivas maravilhosas provenientes do lixo do mundo. São produzidos também utilizando retalhos e linhas doadas uma infinidade de objetos como carteiras, tapetes, almofadas, camisetas, inúmeros artigos de decoração. Além disso, é feita a manutenção de toda a estrutura da fazenda, consertando e reparando aquilo que se deteriora. Latas viram formas para pão, embalagens plásticas transformam-se em quase tudo (de telhas a porta talheres).
Da mesma forma, apenas num nível mais profundo, nos propomos a ensinar as pessoas que desta oficina participam, que da mesma forma podemos transformar seres desgastados e abandonados, conscientizando-os de seu papel, sua relevância e sua beleza.
OFICINA PAPEL DE SER. A vida capitalista tem um único objetivo: transformar o mundo num grande mercado, onde todos comprem tudo, levem para casa e voltem imediatamente para buscar mais. Como um grande caleidoscópio que ao girar muda seu desenho, o mercado altera a imagem de seus produtos e somos levados a consumi-los como se fossem uma grande novidade. Isso acontece com tudo a nossa volta, inclusive com a informação. Notícias velhas de roupa nova, no jornal do dia seguinte; de repente, possuímos montanhas de jornais, revistas, panfletos...
Nessa oficina, toda sobra, todo lixo volta à vida, transformado nos mais diversos utensílios: vasos, cestas, papel artesanal, produtos diversos e até pequenos móveis são criados deste material.
O Teatro Palco da Vida, sediado na Fazenda Mãe Natureza, representa um experimento de reconstrução e síntese, de acordo com a própria história do teatro brasileiro. Inaugurado em 2009, no mesmo ano do início da sua construção, e com capacidade para 300 pessoas, propõe-se a desenvolver as experiências ocidentais da dialética do concreto, do Teatro do Oprimido, bem como aquelas da dialética do sagrado, descritas no Nāṭyaśāstra, a obra inaugural da teoria teatral da Índia e do mundo.
No Brasil, o teatro é introduzido no século XVI com José de Anchieta, visando a catequização dos povos das nações indígenas e a propagação da fé católica. Em 1833, com o ator João Caetano, forma-se a primeira companhia brasileira de teatro. E em 1970, quando Augusto Boal, inspirado nas ideias de Paulo Freire, dá forma às técnicas do Teatro do Oprimido e publica “Jogos Para Atores e Não Atores”, nasce o teatro de natureza psicossocial e política, que sai de palcos quase clandestinos para ser adotado, com o apoio da Igreja Católica, pelo Movimento dos Sem Terra, pelos Sindicatos, pelas Comunidades Eclesiais de Base e a Pastoral Carcerária. Enquanto dirige o Teatro de Arena de São Paulo, expressão máxima do modernismo de Oswald de Andrade, Boal percebe que o teatro brasileiro era ainda resultado de uma escola que, no palco, exortava o povo a lutar, mas fora dele, não tinha coragem para colocar em prática as verdades que encenava.
O grau de compromisso entre a teoria e a práxis, sugerido no Teatro do Oprimido, encontra as suas raízes no oriente, no ancestral Bharata-Muni-Nāṭya-Śastram, o Tratado (śāstra) do Sábio (muni) Bharata, acerca das Artes Performáticas (nāṭya)”. O texto, mais conhecido como Nāṭyaśāstra (NS), estrutura os seus conceitos em versos e aforismos, de forma sintética (saṃgraha), destacando os sabores essenciais (rasa-s), os sentimentos (bhāva), a “gestualística” (abhinaya), os atores (dharmī), os estilos (vṛtti), a cultura local (pravṛtti), as habilidades (siddhi-s), as notas (svara-s), os instrumentos musicais (ātodya-s), a música (gāna) e o palco (raṇga).” Afirma que a experiência estética (rasa) deve constituir-se como uma arte saborosa cuja finalidade é a superação das baixas inclinações (grāmya). Os “ingredientes” da experiência estética (nāṭya-rasa) são como o alimento agradável ao paladar. Quando impregnada da qualidade de universalidade (sāmānya), ela eclode dos estados emocionais, ou emoções estéticas (bhāva), que procedem do coração, a fonte, por excelência, da experiência estética, de forma prazerosa e educativa. (NS 7.7) A experiência teatral não se destinaria, entretanto, à exaltação do bem em detrimento do mal, senão que ao papel de (re)apresentar a essencialidade das relações indiferenciadas de ambos nos processos do mundo. Daí a sua formulação, segundo o próprio texto, com o fim de encenar e dramatizar os distintos episódios das narrativas épicas (itihāsa) como o Mahābhārata e o Rāmāyaṇa.
O segredo integral de tal arte estaria acessível apenas àqueles sábios (Muni-s) que, conhecendo profundamente a topografia conceitual do sagrado, têm o poder de viver, na prática, de acordo com as suas injunções. (NS 1.19-23) Caberia a estes sábios, portanto, o privilégio de mostrar, por meio das representações teatrais, como atualizar as narrativas tradicionais (itihāsa) – dando exemplo de cumprimento do dever àqueles que não o cumprem, de autocontrole aos indisciplinados, de coragem ao covarde, de sabedoria ao devoto estudioso, e assim com todas as demais virtudes do coração.
As normas teatrais do Nāṭyaśāstra estariam em consonância com os sete mundos (sapta-dvīpa-anukaraṇam) e possibilitariam a representação da ciência do dever, da arte do entretenimento, das fortunas, da paz, da comédia, das lutas e disputas, do amor, dos crimes e de todas as nossas disposições interiores (bhāva-anukīrtana). (NS 1.1-07)
É com a motivação estética da realidade interior e abstrata exposta do Nāṭyaśāstra que o teatro experimental do Teatro Palco da Vida da Grande Síntese utiliza os elementos da realidade exterior e concreta, exposta no Teatro do Oprimido.