São muitas e de diversas ordens as experiências que os seres humanos sofrem em sua trajetória mortal transitória.
O propósito das experiências na trajetória da vida não é meramente experienciar o prazer ou o sofrimento em si mesmos, e sim extrair de sua vivência a essência da compreensão desta existência transitória, gerando assim um poderoso discernimento à respeito da verdadeira importância da existência.1
O que nós denominamos de pratica ou experiência de vida é a manifestação da LEI de AÇÃO E REAÇÃO, em toda sua multiplicidade, advindas de nossas relações e contatos do cotidiano.
Por efeito da própria natureza do aspecto prático das experiências da vida, nossa prática vivêncial cotidiana, deixa uma marca inalterável em nós mesmos que não poderíamos jamais alcançar com a mesma eficácia por meio de simples teorias. De acordo com este ponto de vista afirmamos que a prática ou experiência da vida é superior a meras teorias ou especulações teóricas.
Sendo assim, as experiências práticas constituem os primeiros passos, ou melhor dizendo, o bê-a-bá na vida, objetivando exercitar nossa mente e infundir-lhe os conhecimentos que ela necessita. É a prática ou experiência que permite ao conhecimento incipiente afirmar-se como um fato da vida, por já os termos vivido. Em suma, eis porque afirmamos que o que nós denominamos vivência ou experiência é a Lei de Ação e Reação em funcionamento.
Geralmente é empregada esta lei no que se refere à fase objetiva da vida, especificamente em relação aos seres humanos. Porém, quando ela é levada a um intenso grau de concentração pessoal, é possível conceber o processo desta lei também no funcionamento interno ou intimo dos indivíduos e pode-se constatar que ela funciona como lei, mesmo livre de todo contato externo.
O que nós denominamos experiências subjetivas são aquelas que resultam das conseqüências do exercício das faculdades emocionais e mentais nos homens. Todavia, esta classe de experimentação intima está ainda incipiente no homem e só se pode constatar sua efetividade quando nos esforçamos intensamente por observá-la em nosso próprio ser interno.
Geralmente podemos classificar as experiências em duas categorias: as objetivas e as subjetivas.
A categoria de experiência que mais se presta ao nosso próprio entendimento, porque nos são comuns, é a das experiências objetivas; enquanto que as experiências subjetivas, devido às suas conexões aparentemente abstratas, são passíveis de observação somente como resultado de uma prática interna.
Nosso propósito neste atual enfoque não é ainda analisar categoricamente a diversidade de ambos os movimentos separadamente, um eclodindo no exterior (ou objetivo) e o outro no interno (subjetivo).
No momento desejamos apenas considerar os seus respectivos funcionamentos de um patamar completamente distinto, para que possamos compreendê-los em sua relação com o ESPÍRITO, o qual é modificado à medida que a consciência os torna uma prática na vida cotidiana, isto é, os vivencia. Em outras palavras, procuraremos esclarecer em que consiste a PRÁTICA ou a EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL.
As experiências espirituais diferem completamente das duas categorias acima mencionadas.2 Enquanto que as experiências objetivas se obtêm através do contato com os objetivos físicos, as experiências subjetivas tendem a se confundir com as experiências espirituais, posto que ambas se processam no intimo, ou seja, no interno do ser. Além disto, não é fácil compreender cada qual nas especificidades de sua exata natureza.
Experiências subjetivas não são experiências espirituais, não obstante ambas terem algo em comum em essência.
As experiências Subjetivas são REAÇÕES dos veículos internos do homem - ou seja, da mente emocional e do intelecto - percebidas pela consciência (ou Jiva).3 Por si mesmos estes veículos internos não são ativos e são postos em funcionamento somente em virtude do espírito ao contactá-los.
O ESPÍRITO, que em sânscrito chamamos de ATMAN,4 é o desfrutador e o experimentador, mas, neste ato de experienciar e usufruir as reações dos veículos,5 passa a ser chamado de CONSCIÊNCIA ou JIVA. Quando a consciência usufrui do contato com os objetos físicos, do mundo objetivo, se denomina a isto experiência objetiva; e quando a consciência usufrui do contato referente aos veículos internos, do mundo subjetivo, se denomina a isto experiência subjetiva.
É bom ressaltar que estas duas categorias de experiências objetivas e subjetivas, ou seja externas e internas, são de fato, experimentações materiais e em si mesmas carecem de serem valorizadas como sendo experimentações espirituais, exceto no que se refere a alguns de seus aspectos.
Estas reações dos veículos do Homem acontece devido às forças primais (primarias, ou primordiais), e tais reações tomam para o ser um aspecto tentador, convidativo e atraente, uma vez que ao mesmo tempo em que estas forças vão se manifestando por meio destes mencionados veículos - denominados de físico, mental e intelectual - elas se nos apresentam , ora como prazer, ora como dor.
Esta força primal ou primordial se denomina MAYA, que é o Poder ou a SHAKTI de BRAHMAN. Esta MAYA é uma realidade, não obstante apresentar diferentes aspectos modificados através do crivo de nossos sentidos e isto não deve nunca ser tomado como ilusões. Estas forças formam a amarração ou a ligadura do ATMAN, modificado como JIVA, quando ele esta processando ocultamente no recôndito do ser as experiências vivenciadas.
Bhagavan Sri Narayana, no Sanátana Dharma Gita – tomo I, verso 280, diz:
“Maya ata (amarra) firmemente o indivíduo para baixo em direção aos seus veículos, enquanto ele deleitar-se no usufruto (gozo) dos prazeres materiais. Em conseqüência disto ele é alijado e impedido a realizar o mais elevado Dharma, conhecido como SARVATANTRA”.
Este SARVATANTRA mencionado é de fato a EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL e difere das experiências objetiva e subjetiva já mencionadas, porque nestas últimas nós temos somente as reações de prazer e dor.
O Jiva ou consciência, ao liberar-se da escravidão (do cativeiro, da dependência) destas experiências a que seus diferentes veículos os restringe (os aprisiona) desperta e realiza (compreende integralmente) que em sua natureza suprema ela (a consciência ou Jiva) é verdadeiramente um HAMSA (um fragmento) do Supremo ATMAN (do Espirito Supremo).
Esta sim é verdadeiramente uma EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL ou a Prática ou Vivência Espiritual de fato. Este tipo de vivência (experiência) pode acontecer unicamente nas profundezas mais recônditas do coração conhecido como PLANO AVYAKTA.6 Para chegarmos a compreender isto como verdade em toda a sua realidade e profundeza de significado, torna-se necessário que esta experiência esteja invariavelmente associada com uma clara percepção em grau crescente da contemplação constante da Divindade, em seus três aspectos sutis, a saber, SAGUNA (estruturada em um sistema ou apresentada com forma), NIRGUNA (angushtra matra) e SUDDHA (ou transcendental).
È assim que se chega ao “SARVATANTRA” mencionado pelo SENHOR no verso 279 do Sanatana Dharma Dipika.7
Se não conseguirmos alcançar as alturas deste estágio, o indivíduo vaga através do mundo intranqüilo e impacientemente como se fosse um elefante seguramente amarrado a um pequeno poste.
Portanto, para provar se uma experiência é meramente subjetiva ou se ela é de fato uma experiência espiritual, a prova consiste em um estado de consciência acompanhado de profunda sensação de PAZ E FELICIDADE, que temos durante a experiência verdadeiramente espiritual, a qual nos facilita o SARVANTANTRA. Isto significa, melhor explicando, uma capacidade de combinar ou matizar de forma harmônica e habilidosa, nossas emoções físicas e nossas atividades intelectuais proporcionadas pelo Supremo ATMAN, no sentido de realizar seu próprio Plano Divino.
ESTA EXPERIMENTAÇÃO ESPIRITUAL SE CARACTERIZA PELO FATO DE SER ISENTA (destituída) DE TODA NATUREZA PASSIONAL, EM QUALQUER DE SUAS FORMAS.
Se existir paixão de qualquer natureza não é possível a experiência espiritual e foi por isso que citamos a analogia do enorme e forte elefante aprisionado e contido ao ser atado a um pequeno poste, como foi mencionado pelo Senhor.
Outra diferença vital entre estas duas experiências (a subjetiva e a espiritual), consiste no fato de que nas experiências subjetivas persiste um mero desejo de saber interpretar a referida experimentação dos planos subjetivos do ponto de vista pessoal, enquanto que nas experiências espirituais a experiência é acompanhada de um propósito de cumprir a missão divina através da total entrega a ser coadjuvante do Plano de Deus. É justamente em conseqüência desta atitude que se revela, durante a experiência ou vivência espiritual, o PLANO DIVINO.
Além disto, sempre persiste, durante a experiência meramente subjetiva, uma tormenta (tempestade) no ser interno, ainda que exteriormente reine uma aparente calma; enquanto que nas experiências verdadeiramente espirituais, ao contrário, a calma interna é real e traz consigo (e é associada a) resultados dinâmicos. A distinção entre estas duas modalidades de experiência devem necessariamente ser entendidas com clareza, pois ao contrário, as nossas experiências internas, próprias de nossos veículos sutis, poderiam equivocadamente vir a serem tomadas como sendo espirituais. Este tipo de confusão é o que ocorre com a maioria das pessoas e é evidente que tal confusão conceitual e vivêncial frustaria o real propósito.
O próximo ponto para considerarmos é a maneira de alcançarmos a Experiência Espiritual sem cair em confusão.
Bhagavam Sri Narayana disse:
"O ATMAN, de ilimitada potência é movido pela freqüência de som (SABDA) que seja mais adequado à sua própria natureza, e assim alcança , em verdade, o mais elevado grau ou estágio de perfeição."
O SOM (SABDA) reside na PALAVRA (AKSHARA)8 e é conhecida como (BIJA ou BEEJA). Esta Bija cresce e frutifica no Sudha Dharma Mandalan.
Consequentemente, para gerar a verdadeira experiência espiritual, o primeiro passo é a emissão (entoação) dos grandiosos Maha-Mantrans9 que se confere aos aspirantes quando os mesmos estão preparados.
Sem a devida repetição destes mantrans, não pode haver a Experiência Espiritual Real, a única que facilitará nossa própria REALIZAÇÃO.10
Concluindo, a CONSCIÊNCIA (JIVA), funcionando no PLANO AVYAKTA desperta o (espirito) ATMAN à REALIDADE, identificando-se com ele.
As iniciações conferidas pelos Mestres do Suddha Dharma Mandalam facilitam esta experiência.
E, portanto, unicamente por meio do progresso individual, praticado de maneira correta e coletiva, será possível estabelecer no Mundo a PAZ e a BOA VONTADE COLETIVA.
Estamos atualmente (meados do sec. XX) notando quanta falta faz isto em todo o mundo. Individualmente podemos favorecer-nos destes ensinamentos até onde seja possível, porém para que o mundo que está sendo e será submetido a duras provas, possa beneficiar-se coletivamente, aguardamos o advento do Senhor Mitra Deva. Enquanto isto devemos tornar-mo-nos aptos para receber SUA DIVINA GRAÇA esforçando-nos por divulgar as verdades da Suddha Dharma.
OM TAT SAT
T. M. JANARDANA
NOTAS
Nota do Tradutor: É um verdadeiro marco na vida das pessoas quando elas alcançam um estado em que surge um chamado interno para um vida mais profunda, colocando-se na perspectiva de um observador silente e imparcial, totalmente imerso no movimento contínuo e ritmado do pulsar da vida mesmo, nas relações entre os seres animados e inanimados, na convivência cotidiana das pessoas entre si e destas com seu meio ambiente. Nesta postura de pesquisador, a pessoa passa a querer entender como a vida de fato funciona no processo transitório da existência. Em outras palavras, passa a viver o seu cotidiano retendo o real conteúdo das experiências que lhe são proporcionadas, tanto externa quanto internamente , de forma consciente, meticulosa, cuidadosa, alçando a relances de contato com a Realidade Maior, com a Verdade, com a Lei Eterna Universal.
Nota do Tradutor: as duas categorias mencionadas são as da prática objetiva e da prática subjetiva.
Nota do tradutor: o autor usa consciência e Jiva como sinônimos.
Nota do tradutor: as palavras em sânscrito estarão grafadas em itálico.
Nota do tradutor: referindo-se aqui aos veículos internos e externos.
Plano Avyakta: é o mais elevado plano da Composição Estrutural da MATÉRIA PRIMORDIAL (PRAKRITI). É nesse plano que funciona nosso “corpo de glória” ou “Anandamaya Kosha”. Ao alcançarmos este plano entramos em um estado de consciência que nos proporciona a faculdade da SÍNTESE. Esta faculdade tem o nome de DHRITI.
No Sanatana Dharma Dipika os versos de 266 a 282 tratam do Brahma-yagna que libera o Ser das ligaduras que o aprisionam e do fogo da Mangala Geujatri de cinco divisões. No verso 279 é dito que depois de adquirir um conhecimento completo dos procedimentos a serem estabelecidos na rotina diária do buscador (Dasa), (versos 268 a 277), caso lhe seja impossível realizar este procedimento externamente poderá fazê-lo por meio de palavras ou pensamento desde que tenha um conhecimento preciso de seu real sentido.
Nota do Tradutor: o Som reside na Palavra (no VERBO) e o “VERBO” está em DEUS (na Trindade Divina). No homem AKSHARA é o DIVINO PRINCIPIO de Vida, é o SOM INAUDÍVEL , O INDIVISÌVEL E INDESTRUTÍVEL. O Akshara quando manifestado no ser corpóreo é o MORADOR INTERNO ou CRISTO.
Nota do Tradutor: repetição seqüencial, harmônica e cadenciada dos elevados sons de poder, em sua exata freqüência vibracional (Maha-Mantrans).
Entendendo-se como REALIZAÇÃO o REAL DESEMPENHO consciente do HOMEM COMO SER.