Partidários entusiastas das práticas de “Controle da Respiração” têm limitado o significado do termo “Pranayama” exclusivamente ao controle da respiração. Estas pessoas têm desenvolvido ou praticado o Pranayana apenas como sendo “A CIÊNCIA DO CONTROLE DA RESPIRAÇÃO”.
Não é possível encontrar pior distorção do que esta quanto ao significado atribuído a uma palavra-chave do Raja Yoga. Tal equívoco1 tem sido levado à prática com funestas consequências. Porém, não é nossa intenção defender a posição de que o controle da respiração não deva se estruturar cientificamente, nem tampouco pretendemos afirmar que o Pranayama nada tenha a ver com “controle da respiração”. Apenas ressaltamos que aqueles que declaram que o “controle da respiração” por si só é Pranayama, não têm evidentemente prestado atenção à importância vital do amplo significado concernente ao termo e, portanto, satisfazem-se com uma abordagem superficial que eles dão ao significado conceitual deste tema.
Pranayama está intimamente relacionado ao Yoga, e a desagradável consequência de havê-lo entendido apenas como controle da respiração é o motivo pelo qual surgiu a distorção ou equívoco generalizado, de que aqueles que pretendem praticar o Yoga deverão realizar, como requisito primordial, simplesmente uma série de exercícios respiratórios. É tão grande a generalização dessa falsa concepção de Pranayama que se chega a considerar o próprio Yoga como “controle da respiração”. Esse equívoco conceitual é verdadeiramente trágico. É inconcebível um prejuízo tão desastroso, tanto para o Yoga, como para o Pranayama.
Na literatura Yogue o Pranayama ocupa um lugar tão importante, que se poderia afirmar incontestavelmente que não existe o Yoga sem Pranayama, e que a ausência de Pranayama impossibilita direcionar ou conduzir qualquer das linhas de Yoga. É conveniente levar em conta que não há um Yoga único e sim, muitas linhas de Yoga diferenciando-se entre si, conforme o objeto de contato estabelecido por cada uma delas. A mais elevada de todas as linhas de Yoga é a Adhyatma Yoga (Suddha Raja Yoga).
Em seu estrito significado, a palavra Yoga é aplicável somente a esta ciência (da Adhyatma Yoga) e não às demais linhas de menor amplitude2 tais como Hatha-Yoga, Laya-Yoga, Ashtanga-Yoga e outras similares. É importante afirmar que essas demais linhas não são necessariamente uma passagem, ou caminho para Adhyatma Yoga.
O Pranayama, que constitui um acessório vital e é a principal ação preliminar para qualquer linha de Yoga, seja ela qual for, tem também múltiplos aspectos; o controle da respiração é um dos seus muitos métodos, ocupando apenas o mais elementar de seus degraus.
Para os estudantes da Adhyatma Yoga (também conhecida como Brahma-Yoga, Suddha Yoga ou Raja-Yoga) a prática de controlar a respiração, em estágio algum deve ser repudiada como prejudicial, dispensável ou obstáculo para o progresso. Vale ressaltar que “controle da respiração” só abrange superficialmente o significado da palavra Pranayama, enquanto que o termo “Swasabandana” pode ser traduzido como “controle da respiração”.
Portanto é evidente que a palavra “Pranayama” significa algo mais profundo que “Swasabandana”. E afirmamos que assim é. O termo “Prana”, em seu sentido geral, indica “energia”, “força vital”, “intelecto superior”, “espírito”, etc. Na realidade a palavra exata e que mais se aproxima ao exprimirmos a idéia ou conceito do que seja “Prana” é “consciência”. Por outro lado, a palavra “Ayama” não significa meramente “restringir e controlar”, e sim, em um enfoque mais amplo, equivale a “expandir”.
Assim sendo, o verdadeiro sentido da palavra “Ayama” é: “conduzindo para”, ou “direcionando para”. Dessa forma “Pranayama” significa: “conduzindo a consciência” ou “expandindo a consciência”. Certamente a CONSCIÊNCIA não é de fato conduzida através de coisa alguma, e sim através de “Deus”. Poderão os yogues modernos argumentar que o controle da respiração tem sido adotado como prática ou exercício preliminar ou preparatório para conduzir a consciência para Deus e, conseqüentemente, Pranayama seria portanto este controle da respiração ou do alento vital, somente.
Ainda que seja usual se substituir o conteúdo essencial pelo seu invólucro externo, ou afirmar uma coisa querendo dizer outra, utilizando-se do eufemismo3, não é admissível quando se trata de uma CIÊNCIA EXATA como é o YOGA, citado aqui no seu significado mais amplo de “Adhyatma Yoga”.
O exímio controle da respiração4 que nesses casos é postulado, é realmente falso. Já temos assinalado que este hábito é inadequado, porque apesar da boa intenção que lhe respalda e de um possível valor terapêutico sob determinadas condições, a Consciência não é conduzida nem se orienta para Deus. Nesta classe de prática, a Consciência é burlada ou enganada de tal modo que, ao ser subvertida ou contornada, dissociada e eventualmente asfixiada, ela toma a direção exatamente oposta, ou seja, é levada ao estado de inconsciência. E é desta “inconsciência” que emergem todos os poderes denominados “Siddhis” com os quais o prestidigitador moderno, assumindo o nome de yogue, entretém o público fazendo-se sepultar vivo e emergindo mais tarde ileso, detendo as pulsações do coração, ou engolindo pregos, venenos, ou caminhando sobre brasas, ou fazendo a prova da corda e uma imensa variedade de outras façanhas. Todas estas prestidigitações são excelentes em si mesmas, porém não conduzem a Consciência a Deus, evidentemente. Com certeza não existe nisso Pranayama. Há mais probabilidade de afirmarmos que o poder mais elevado que estas práticas poderiam gerar é o de “Kichari-Siddhi”, ou seja, o de voar pelos ares; poder este que os adeptos do controle exímio da respiração, segundo parece, ainda não conseguiram desenvolver. Temos as aves que voam e os aviões modernos; portanto não podemos nos maravilhar com o desenvolvimento do poder de voar, pois isso não poderia nos aproximar de Deus uma fração sequer de polegada. Certamente que não.
É verdade que quem recorre a esta prática, o faz acompanhando-a com a entoação de certos Mantras; diz-se também que ela tem como objeto a realização da Divindade, do Deus Supremo em sua manifestação chamada “Nirguna”, isto é, de Deus sem forma, dissociado ou além dos atributos da Matéria ou Trigunas5. Isto é de ordem muito elevada, sem dúvida, porém, na realidade, em vez de se obter a meta de “realizar” Deus em sua manifestação Nirguna ou sem forma, desenvolvem-se os Siddhis6, porque a motivação da mente que respalda tal intenção implica intrinsecamente em produzir estes poderes. Se os que assim agem tivessem outra atitude interna, perceberiam bem antes, como é inútil interferir na respiração, seja de que jeito for, a fim de se alcançar a REALIZAÇÃO (Deus).
Contudo, na literatura Yogue ainda se confere o elevado nome de Pranayama a esta referida prática de controle da respiração, em atenção à pureza do motivo que a inspira; porém é uma categoria “PRAKRITICA” de Pranayama, e, por estar equivocada, desenvolve os “Siddhis”, os quais por sua vez obstaculizam a Realização.
Há outra variedade deste “Pranayama Prakritico” que consiste no culto a vários Deuses (devatarchanas) e que é feito mediante a execução de “Japas”, associados a ritos mântricos e recitação de orações. Os que se entregam unicamente a isso, não praticam o controle da respiração e nem tampouco se preocupam de fato com a ciência Adhyatma, já que a única busca de suas adorações é a de alcançar os objetivos materiais que têm em vista. Eles se baseiam em uma arraigada convicção de que Deus é um outorgador de favores.
Estas duas variações de “Pranayama Prakritico” não têm cabimento num plano cujo objetivo exclusivo e incondicional seja a realização espiritual. Para alcançar esta condição mental é necessário ser realmente muito valoroso e aceitar viver durante a vida uma linha de disciplina firme e constante. Para tal, como primeiro passo, deve-se buscar o conhecimento correto da Divindade, exercitando para isso o intelecto.
A estes dois métodos de “Pranayamas Prakriticos”, recorrem àqueles chamados “Pravritas”, porque suas inclinações são meramente materialistas. Examinemos agora o tipo de Pranayama praticado pelos chamados “GNANIS”, os quais se devotam ao ATMAVICHARA, mergulhando no Atman7 e tornando-se livres da Prakritti8. Esses “Gnanis” formam uma classe bem distinta das outras duas já referidas.
Para estes a finalidade de suas aspirações é o Ishwara, que é do tamanho de um dedo polegar (Angushtamatra Purusha), e que reside no coração de cada um de nós. Para eles, o Mundo é falso (Mitya) e está dominado pela ilusão (Maya), portanto deve ser rechaçado. Estes GNANIS ostentam o nome de Vedantinos. Com este propósito, e para alcançar este objetivo, asfixiam, pela força, os turbulentos sentidos, e se entregam à prática, que já é famosa, da supressão das oscilações mentais (Chitta Vritti Niroda). Como eles pretendem alcançar um estado em que estarão livres de todos os desejos, reprimem-se fortemente, com o objetivo de abstrair a mente (Manas) juntamente com a Consciência que reside nela, a fim de focalizá-la em um só ponto: Ekagrasiddi.
Ainda que por este ato de subjugar a Mente (Manas), os “Gnanis” assemelhem-se aos “Prakritas” da variedade “Nirguna”, diferem-se na concepção de Divindade que é avaliada pelos resultados que Deus proporciona . Para estes o desenvolvimento de poderes é um dom de Deus e, portanto, haverá de se conduzir ao contato com Deus, já que o conceito que eles tem do aspecto “Nirguna” de Deus é o de um imenso dispensador de poderes, porém atuando sem forma. Para os Gnanis, Deus tem a forma da Luz e é Testemunha (Sakshi), muito distante das forças materiais e inteiramente livre da influência das trigunas.
Esta concepção dos Gnanis representa a teoria de inexistência do mundo, e traz junto com ela a supressão dos sentidos e da mente. Sem dúvida que, após um período de auto imolação, consegue-se ver a Luz do Atma (Atma-Jyoti) e rompem-se também as amarras do coração. A este tipo de prática denomina-se “Atmiya-Pranayama” já que contribui para a realização do mencionado Atman, ainda que a um grande custo. Não obstante a pureza de motivação que se alcança com a liberação da escravidão que ata o coração, não se consegue a libertação da ação (Swatantra) que caracteriza o êxito no Yoga. Persistirá ainda uma sensação de desejo, mesmo depois de haver-se conseguido a supressão das exigências dos corpos materiais considerados inimigos, na concepção Vedantina.
Este desejo deve-se ao não desaparecimento do senso de egoísmo ou egocentrismo, e a origem disto está na idéia inicial equivocada de crer que Atma (Espírito) e Prakriti (Matéria) não estão inter-relacionados, que são opostos9 e que, para realizar o Atma, deve-se suprimir a Prakriti. A realidade é que ambos estão eternamente unidos, atuando um sobre o outro, influenciando-se mutuamente. Jamais, qualquer que seja a situação ou condições, poderá permanecer um sem o outro. Esta é uma verdade que as pessoas terão ainda que aprender. Portanto, o “Atmiya Pranayama”, ainda que ajude parcialmente àqueles que tenham alcançado êxito em suas tentativas para realizar supressões mentais, não conduz à realização da Unidade transcendente que é Brahman, e em conseqüência à “Swatantra”. Diz-se que a prática de regular a respiração, em pequena proporção para começar, é executada de acordo com as instruções do Guru, mas que posteriormente continuam. Estas pessoas são denominadas “Nivrittas”, ou seja, são aqueles cujas inclinações estão dirigidas exclusivamente para seu próprio ser interno.
A variedade de Pranayama que se pratica no Adhyatma-Yoga denomina-se “Suddha Pranayama” e é livre dos tentáculos aprisionantes das duas variedades anteriores. O “Gitacharya” prodigaliza-lhe em elogios, posto que é “SUSUKAN KARTUM” e que é dos mais agradáveis de se praticar.
Num mundo em que a regra é o jogo dos opostos, é difícil sobrepor-se a outro tipo de funcionamento. O fato de decidir-se por uma das partes, após dividir em grupos de opostos, produz, muito rápido, seus resultados.
Temos assim os Materialistas, que procedem negando o Princípio Espiritual; e os Espiritualistas, que se empenham em descartar os sempre presentes e necessários veículos materiais e suas legítimas funções na vida. Não se tem em conta as pelejas que tem havido entre os materialistas e os espiritualistas. No Adhyatma-Yoga, a frutificação não é obtida por preferências de um sobre o outro, mas é alcançada transcendendo a influência dos opostos, mediante o processo de síntese (Samikarana), pelo qual fica compreensível o lugar que corresponde às diversas partes em sua relação com o Todo, com a Unidade.
É óbvio que, para a mente alcançar essa compreensão é preciso educá-la sobre princípios verdadeiros. Esses princípios encontram-se nos três postulados (MAHAVAKYAS) seguintes, que resumem a concepção da SÍNTESE:
“SARVAM TAT KALVIDAM BRAHMAN”
Tudo é Deus
“SARVAM BRAHMAM SWABAVAJAM”
Tudo é da Natureza de Deus
“SARVAM AVASYAKAM”
Tudo é Necessário.
Estes Mahavakyas destacam o enfoque da Síntese. Na frase “Brahman é verdade e Jagat é falso” (Brahm satyam, Jagat mitya), tão freqüentemente citada pelos “buscadores” do Atman, demonstra a cisão por eles postulada e que se tem perpetuado, tem trazido desastrosas conseqüências. O erro fundamental desta concepção consiste em igualar o Atma a Brahman, defendendo a tese de que para a realização de Deus é requerida a cisão ou separação do mundo material. Isto não só nos tem levado ao mais desagradável estado de coisas neste país10 durante muitos séculos, como tem trazido como consequência, na mente de muitos, a dúvida em adotar este caminho por considerar que suas ponderadas excelências careçam de valor.
É preciso insistir no seguinte: Atma não é Brahman, uma vez que Brahman é uma TRINDADE formada por ATMA, SHAKTI e PRAKRITI, cada um destes ocupando um lugar distinto e único no esquema do “TODO” e interagindo uns sobre os outros reciprocamente. Nem poderia o Mundo da Matéria ser rejeitado, uma vez que a Vida está manifestada somente nele (no Mundo da Matéria, ou seja na PRAKRITI).
O Atma reside no processo mundial como o representante de Brahman; sua realização como passo inicial, ainda que seja importante, não é uma coisa completa por si só.
Sua realização tampouco requer a anulação da matéria, hábito que o Gita condena como impura ou “asúrica”. “Karsayanta sarcerastam butagramam achetasaha, mamchivanta sarcerastam tan vidhyanusara nischayam”.
De tudo isto resulta em: para chegar a superar as influências da matéria (Prakriti), depois de se ter aprendido plenamente o alcance e necessidade de superar estas influências, há de se seguir um processo de harmonização operacionalizado gradualmente. Ora, um estudo da Síntese11 revela-nos sobre este estado superior de harmonização com o todo ou de comunhão com a totalidade, no qual estas três forças ou energias: Atma, Shakti e Prakriti encontram-se unas e em completa igualdade e equilíbrio12.
Este “estado” de consciência leva o nome de Ananda, Paramshanti, Nirvana, Yoga, Turya, Avyakta, Atyantam, Sukham e etc. O fruto do estudo da SÍNTESE é a aquisição da habilidade ou faculdade de vencer as oposições hostis (os empecilhos que obstaculizam “o caminhar”) com um senso amistoso em todos os relacionamentos de oposição. Aquele que se empenha nisso, vai gradualmente se libertando de ter que seguir em conflito aprisionado pela teia do EGOÍSMO, ou seja, pelo persistente conceito de “eu” e “meu”, chamados respectivamente “Swarthadosha” e “Karmanyadosha”. Está aqui a origem dos incontáveis sofrimentos do mundo e do ciclo interminável de nascimentos e mortes.
A sensibilidade dos sentidos e a mente emocional (MANAS) são afastadas gradativamente da natural atração ou repulsão pelos objetos, até que finalmente seus efeitos são neutralizados pela percepção da VERDADE em si mesma, consolidando a transmutação destes efeitos na prática. Este tipo de estudo e a sua prática (o seu exercício na vida cotidiana) é necessariamente um pré-requisito para ser conduzido ao êxito no Suddha Pranayama.
Pranayama é o nome técnico dado à prática subjetiva que conduz a consciência a Deus; ela é predominantemente subjetiva, porque é um ato puramente mental.
A Consciência tem sua base predominantemente em Manas que é o plano da mente emocional. Devido a sua própria natureza, Manas está habitualmente orientada para o exterior, para o objetivo; os sentidos são as portas por onde chegam as impressões causadas pelos objetos. Se queremos desviar o curso de Manas do objetivo para se alcançar Deus, o Pranayama constitui o primeiro passo e precede a Meditação (Dhyana) pois esta consiste em um ato de continuidade13.
Há certas condições externas que são de absoluta necessidade durante esta prática: a solidão (afastamento de aglomeração de pessoas); evitar a alimentação excessiva; ser austero, tranqüilo e, em toda oportunidade invocar frequentemente as virtudes Brâhmicas. Quanto a prática em si, consiste em: sobrepor-se à sensação de cansaço (Jitasramaha), ser capaz de permanecer sentado em uma postura firme por um determinado tempo (Samasinaha); elevar a consciência à coroa da cabeça (Murdhyatma Nanadaya), pensar fixamente na natureza do Atma (Atmanan Chintayet); e transmutar PRANA em APANA, e vice versa (pranapana-gadi Ruddhva Pranayama Parayanaha).
PRANA indica o estado (Brâhmico) de consciência do ser, que é denominado “estado Turya”, que é o quarto estado de consciência. Ele se processa no Plano Avyakta ou Plano Yogue, no qual os três aspectos: Atma, Shakti e Prakriti estão eternamente em unidade (Yoga) e se denomina PARAATMA ou ainda Sat-Chit-Ananda (Verdade, Sabedoria e Bem-aventurança).
Os três aspectos: Atma, Shakti e Prakriti habitam em harmonia nos três níveis: Mahat (Buddhi), Manas (Mente Emocional) e Indriya (Sentidos), embora quando há predominância de um destes níveis (Mahat, Manas e Indriya) acontece o domínio deste sobre os outros, instala-se assim a desarmonia (APANA). O ato de transmutar APANA é chamado PRANA. Em outras palavras, PRANA é o ato pelo qual equalizamos a Unidade com a Multiplicidade e a Multiplicidade com a Unidade. No Gita, o Senhor explica isso com as seguintes palavras: “Quando o aspirante alcança a percepção da multiplicidade (no tríplice samsara), concentrada na Unidade, e ao mesmo tempo emanando dela, compreendeu Brahman” - “Yada bhuta pritak bhavam ekatam anuspasyati tata evacha visitaram Brahma sampadyate tata”.
A este processo de harmonização mental denomina-se Pranayama. Um processo completo se constitui de três características essenciais:
1) O ato mental da redução das Multiplicidades, incorporando-as à Essência Divina Imanente e Única.
2) A retenção da idéia de plenitude na qual o Uno e o Múltiplo estão sempre como auxiliares necessários.
3) A eliminação de todos os impedimentos que não deixam conservar o conhecimento desta realidade singular.
Estas três partes (Angas) do Pranayama foram explicadas por Sri Hamsa Yogue em seu inimitável estilo, como vemos a seguir:
1) “visuddha sarvabhavanam swatmaswarupe brahmani satwena samapayanam”.
2) “samanetanain cha teshambhavanam swatmaswarupa brahma swabhava siddhatvena cha ikyasyavignanam”.
3) “tadikya vighana pratibandhaka nanabhava parityagaha”.
Estas três fases da prática são denominadas, respectivamente, PURAKA, KUMBHAKA e RECHAKA14.
Também são dados estes três nomes aos atos de inalar, reter e expelir o ar nos exercícios de respiração; porém no Pranayama ao qual nos referimos, dirigido ao YOGA SUPERIOR, esses exercícios respiratórios não são necessários.
Manas (Mente), a qual se pode considerar como o décimo primeiro sentido, apesar de receber suas impressões através dos sentidos (Indriyas), não está condicionada exclusivamente por estes, porque ela possui movimentos independentes próprios, de preferências e desagrados. Por esta razão, Manas experimenta também o prazer e a dor que isto traz consigo. Ela é tida como o veículo da Meditação e é denominada também de “Ishwara dos Sentidos”.
Para elevar mais a Consciência e chegar à idéia de unidade (Ekagrachitta) é necessário superar as dualidades. Isto só se pode conseguir incorporando-se à consciência a idéia de síntese. Buddhi (Intelecto), é veículo de conhecimento superior a Manas e o único capaz de assim influenciar, inculcar e conseguir que se estabeleça em Manas esta condição necessária. Atividade dos sentidos, qualquer que seja, incluindo exercícios de respiração, poderá jamais chegar a controlar a MENTE porque os sentidos estão subjugados a ela. A afirmação de “paralisar a mente” com o objetivo de sobrepor-se às suas atividades, é uma ilusão de primeira classe e não tem lugar no Yoga. Se alguém recorrer a isso, terminará possivelmente na inconsciência.
Por ser a Mente (Manas) o veículo que recebe os frutos do Yoga, isto é, Ananda e outros frutos, ela está sempre presente, e aquilo que tecnicamente denomina-se “laya” é alcançado neutralizando os efeitos dos opostos e das multiplicidades existentes na mente; uma vez conseguido isso, chega-se a contatar o plano Avyakta. Assim o Atma-Jyoti (Luz do Atma) se faz visível e nele a visão do Paraatma. A duração deste contato é momentânea no início, porém aumenta de intensidade com a prática até chegar a sua intensidade máxima; este estado denomina-se “Samadhi” e nele a consciência encontra-se em sua capacidade funcional plena.
As três fases essenciais chamadas Puraka, Kumbhaka e Rechaka, constituem um Pranayama completo, a prática começa com PURAKA, que em seu sentido literal, significa o ato de encher. O Pranayama, em seu conjunto, é o ato que serve para conduzir a consciência para Deus (Parabhavabhi siddhi sampadana Karma). Pela expressão “para Deus ou até Deus” deve-se entender: atitude unitiva suprema, total ou geral (Antaryami Paraatma Bhava).
A consciência é representada pela palavra “Prana”, o estado consciente. A diferença que há entre Prana e Pragna, consiste em: enquanto Pragna indica o estado consciente ou de lucidez geral, Prana particularmente indica a consciência do “EU SOU”.
“Pranabhavet parambrahma jagatkaranamavyayam; aham sabdasha tattatwa jagatam karanam”; isto se traduz assim: Prana é Para Brahma, a eterna causa mundial. A palavra”Aham” também denota a causa mundial, de maneira que Prana é precisamente Aham ou consciência do Eu (AHAMKARA), que é a causa das multiplicidades no mundo, e compenetra igualmente todos os veículos (corpos) do homem, porém tem sua residência principal no plano Mental-Emocional (Manas). A consequência de sua estreita associação com a natureza variável, dual e inerente ao referido plano mental, é o esquecimento de que pertence a um todo sintético dando preferência pelas multiplicidades opostas, como prazer e dor, etc. Aqui entra em jogo o estado de “Jivatma”, ou seja, a alma individual, que como tal se deixa levar, agitando-se turvada e confundida (Brahmayam), sendo presa das forças duais. Recuperar a consciência (Pragna) já livre do egoísmo, que é a causa da separatividade, em cujo estado Jivatma se transmuta no Ishwaratma, é o objetivo principal do Pranayama.
Por isso, Puraka desempenha a função de encher a consciência com o conceito (Bhava) de unidade, que é Divino, frequentemente purificando e transmutando da Mente suas motivações negativas (Asat Bhava), atitude causadora de sofrimentos, para concentrar-se em motivo puro (Sat Bhava), e isto se alcança com a prática de Puraka.
Tudo isso nos leva à conclusão de que mediante Puraka consegue-se a purificação das motivações ou conceitos (Bhavasamsuddhi); também denominado tecnicamente de “nadisuddhi”, ou seja, purificação dos nadis (nervos) ou condutos espirituais (Ida, Pingala e Sushuma).
Pode-se dizer, que a palavra “Bhava” tem na literatura adhyatmica importante significado, que requer cuidadosa compreensão, uma vez que possui vários significados relacionados ao contexto. A palavra “Bhava” pode ser traduzida como “MOTIVAÇÃO”. É o produto do veículo mental (Manas) veículo de desejo (ICCHA). Iccha (Desejo) é um elemento de suma necessidade para a evolução humana. Assim sendo, incorre-se em grande erro afirmar que o desejo deve ser refreado. Os bons ou maus efeitos do desejo (Iccha) dependem do motivo (Bhava) que os inspira, e este, por sua vez, tem como causa a inconstância característica do corpo Mental (Manas); que resulta na liberação ou na escravidão do homem (Manaeva Manushyanam Karanam Bhanda Mokshayoho), tal como declaram as Escrituras Sagradas (Srutis). Por sua vez o motivo (Bhava) torna-se, de acordo com isto, bom ou mau (Satbhava ou Asatbhava).
A natureza mutável e inconstante de Manas é qualitativa e funcional. De nossos conhecimentos vai depender que o motivo (Bhava) seja bom (Sat), ou mau (Asat). “Sat-bhava”, que conduz à síntese e ao progresso, é gerado pelo reto conhecimento que a ele nos leva, enquanto que “Asat-Bhava”, que conduz aos conflitos e a destruição, é o resultado de conhecimentos pervertidos que se empenham em limitar o campo de ação da vida, a nossa própria personalidade, com relação ao grupo, nação ou raça. A isto se chama ignorância.
Portanto, o estudante do Pranayama deve procurar a purificação de seus próprios motivos (Bhava), mediante o conceito correto da Unidade entre todos os seres (Bhávana), o qual é possível com o conhecimento adequado; assim sendo a purificação dos conceitos (Bhávana Samakara) constitui o primeiro dos três requisitos essenciais na prática de RAJA YOGA. Somente se pode empreender eficazmente o segundo passo, que é “Karma”, se já se conseguiu formar o conceito adequado da UNIDADE (Bhávana)15.
O Pranayama constitui um fator importante, que nos leva ao terceiro passo: a meditação (Dhyana), através da qual se adquire as graças divinas.
PURAKA é um ato interno dirigido incessantemente a infundir em nosso ser a grandiosa idéia da unidade essencial existente na criação infinita. Sri Hamsa Yogue define isso com as seguintes palavras: “Visuddha savabhavanamswatmaswarupe brahmani satwena samanayam”. Várias capacidades são adquiridas através da prática do Pranayama e essas quatro pertencem à fase do PURAKA. Elas são:
1) “VASSEKARANAM”, ou magnetismo amigável para com todos os seres.
2) “YOGNAM’, ou capacidade de receber e de unir, que permite suavizar as animosidades;
3) “SANKHALPATYAGA”, abandono das distrações mentais;
4) “NIRAPEKSHASTITI”, estado de absoluto desapego.
Sabemos também que no “Pranayama Dharma Gita”, o Senhor Krishna explica como estas quatro características se manifestam naquele que já é eficiente em Puraka:
“Yada viniyatam chittamatmanyevavatishtate, nispruha savakamebhyo, ktaitchyate tada”, cuja tradução é: “Considera-se um Yukta aquele cuja mente está bem disciplinada, portanto devidamente dirigida, centralizada no Atman, desligada de todo apaixonamento” - Cap. XIV - sloka 12.
O segundo estágio corresponde a quatro capacidades alcançadas através de KUMBHAKA citadas no mesmo cap. XIV do Gita, nos versículos de 13 a 17. Portanto, a segunda parte (Anga) do Pranayama recebe o nome de KUMBHAKA. Que significa retenção, ou seja, é o ato de reter na Mente a idéia de síntese que lhe foi infundida por Puraka. Os três grandes postulados (Mahavakyas) em que se baseia esta idéia de síntese são:
“SARVAM TAT KALVIDAM BRAHM”;
“SARVAM BRAHMA SWABHAVAYAM”;
“SARVAM AVASYAKAM”.
Não é preciso limitar esta prática a determinadas horas do dia apenas, uma vez que ela pode ser realizada facilmente a todo momento. KUMBHAKA pode ser realizado continuamente. O resultado é o desenvolvimento no aspirante de outras quatro características:
1) “ACHANCHALAMANASKATWAM”, ou estado de firmeza mental, é um estado em que a mente não se distrai. O que nas Escrituras Sagradas (Srutis) denomina-se “amanaskatwam”, que não significa erradicação de Manas ou Mente Emocional, pois seria o impossível; refere-se simplesmente a esta condição de firmeza mental, ou “achanchalamanas”, que a mente alcança com a prática de Kumbhaka. Quando a mente consegue manter-se nesta condição, assemelha-se notavelmente a chama de uma lamparina protegida do vento. No Gita, o Senhor se expressa do seguinte modo: “Como a chama de uma lamparina que, em lugar protegido do vento, arde sem tremular” - “Yatha dipo nivatasto nengate sopama amrita yogino yatachittasya yunyato yogamatamanaha”. Esta comparação faz alusão à firmeza que é adquirida nas práticas yóguicas por um bem disciplinado aspirante do YOGA.
2) “EKAGRACITTA”, é o estado que faculta à já aquietada Mente a retenção da idéia sintética de imanência do Ishwara em todas as multiplicidades. Em razão disto, o aspirante é capaz de experimentar a visão do Ishwara em seu próprio ser interno. O Gita, a este respeito, diz o seguinte: “Em cujo estado de firmeza mental (Manas), dirigida com a prática do Yoga, alcança a tranquilidade, e o aspirante desfruta com isto de grande felicidade, chegando ao regozijo quando tranquiliza Manas e alcança a visão do Atman” - “Vatroparamate chittam nirudham yogasevaya, yatra chivatmanaatmanam payannatmani tushyati”.
A extraordinária felicidade alcançada mediante “ekagrachitta” não provém de contato sensorial algum, mas pertence à faculdade de Buddhi (Intelecto); por isso mesmo corresponde à categoria de felicidade eterna “saswatamsukham”, que ajuda ao aspirante a manter, com crescente firmeza, o passo que conseguiu dar no caminho. A esta condição, que é a terceira das quatro características, dá-se o nome de:
3) “ACHYUTATMA”, que significa o poder de não retroceder, não se desviar. O Gita descreve da seguinte maneira: “Pelo qual ele desfruta do êxtase supremo, que é compreensível pela inteligência, porém, inalcançável pelos sentidos, e que, mesmo desfrutando-o permanece no estado de Yoga ou Síntese.
“Sukhamaatyantikem yattadhuddhigrahyamatingríyam, vetti yatra na chivayam stitachalati tatwataha”.
O estado de não se desviar, ou de não decair é “achyutatwan” e sua obtenção vem como resultado de haver-se tido a visão do Atman que cada qual leva dentro do seu coração. Isto é algo inteiramente possível para quem tem firmemente arraigado o ideal sintético.
A quarta característica conhecida como “SHANTATWAN” é o estado de paz mental. Quem desfruta dessa grande paz, dificilmente poderá considerar que existe algo mais sublime digno de ser adquirido. O Gita diz: “Alcançado o qual, considera ELE que nenhuma outra aquisição poderia superá-la; estabelecido nesse estado, não se distrai nem na intensa dor, nem no prazer” - “Yam Jabdhva chaparam labhal manyate nadhikam tataha, yaminsthito na dukhena gurunapi visalyate”.
Cabe fazer notar que, quando o texto do Gita menciona um só aspecto, seja este positivo ou negativo, deve-se considerar expresso também o outro aspecto que não foi mencionado, porque o Gita procura ensinar a transcendência, sem preferência por nenhum aspecto da dualidade. Assim, por exemplo, quando o Gita expressa: “Não se distrai pela dor” - “Duhkena gurunapi visalyate” subentende-se que, tampouco se distrai pelo prazer. Porque prazer (Sukha) e dor (Duhkha) constituem o par de opostos que atam a alma humana (Jiva). O resultado de havê-los superado é a felicidade (Ananda) ou glória eterna (Saswatasukha). Só esta felicidade pode conduzir o esforçado aspirante a esse estado de paz que supera toda compreensão (Shantatwam).
O estado yogue de consecução plena é descrito no Gita do seguinte modo: “Que se tenha por Yoga o estado que nos desliga de toda associação com a dor e com o prazer; esse Yoga deve ser praticado com firme convicção e com a mente invulnerável ao desalento” - “tam vidyaat dukhasamyogaviyogam yogamagitam, anischayena yoktayayo yogoaniryinna chestasa”. Esta exortação do Senhor reforça a necessidade de se imprimir na Mente (Manas) a elevação pelos diversos meios que possam mantê-la nessas condições. O primeiro e mais eficaz dos meios é o conhecimento sintético e sem isso, ela tenderá a decair uma e outra vez.
Na sequência ao relato sobre Puraka, Sri Hamsa Yogue explica a prática de Kumbhaka da seguinte maneira: “Samanitanam cha tesham bhavanam swatmaswarupa brahma swabhavasiddhatwana chikyasya vignanam”. Estas palavras expressam o ponto de vista da retenção. Aqui a palavra “Vignanam” indica a generalização do conhecimento real no plano de cognição (Buddhi) que o Senhor descreve como “Buddhi Grahyam”, ou seja; compreendido por Buddhi.
De maneira que a idéia de síntese, anteriormente insípida, se estabelece firmemente no aspirante, mediante a prática de Kumbhaka, e em conseqüência, o aspirante fica em condições de adotar com facilidade o RECHAKA, que é o terceiro componente do Pranayama. RECHAKA significa transcender as idéias que tendem a perpetuar as diversidades discordantes, em cujo solo fértil o aspirante foi presa do contraditório egoísmo “Dushta-Ahankara”, que esteve crescendo até o momento tornando-o sujeito a roda dos nascimentos e desejos sucessivos. Mediante Rechaka frena-se automaticamente a tendência da Mente (Manas) de retornar a provar essas sensações. Sri Hamsa Yogue descreveu esta prática como “a transcendência das multiplicidades separatistas que impossibilitam a realização da unidade” - “Tat vignanam pratibhandaka nanabhava parityagaha”. Os reinos superiores plenos das virtudes yogues, se alcançados, frenam a tendência a cair.
A extraordinária felicidade resultante da Rechaka está descrita no Gita do seguinte modo: “O aspirante à Yoga, purificado de todas as impurezas de suas tendências egoístas (Swartha-Dosha) e dirigindo sua Mente para a Yoga (Síntese), alcança o profundo êxtase do contato brâhmico”16.
“Yunjannevam sadaatmanam yogue vigatakalmashada sukhena brahm a sarnsparssmatyantam sukhamasnute”.
Esta classe de contato brâhmico, que o Senhor menciona, considera-se realizável pela prática conhecida por “Suddhativitanishta” à qual Rechaka nos conduz. Em consequência, o aspirante capacita-se para cooperar no plano divino da criação, preservação e convergência (Arishtí, Stiti e Laya); também fica capacitado para desempenhar o cargo de Instrutor Espiritual (Adhikara Purusha) da Divina Hierarquia que controla os processos evolutivos mundiais sob a direção suprema de Sri Bhagavan Narayana.
O Suddha Pranayama gera contato com a energia de Brahman (Brahma-Shakti) que compenetra os processos evolutivos de todo o cósmo. É unicamente mediante esta energia que se torna possível, primeiramente, o contato com o Princípio Átmico e depois com Brahman.
Resume-se que, por meio de Puraka procura-se realizar o contato chamado “Swiraka”, isto é, de trazer conscientemente ao nosso interior a energia de Brahman (Brahma Shakti). Por meio de Kumbhaka gera-se a capacidade conhecida, por “Sadharana”, ou seja, a de manter sua energia, e por meio de Rechaka consegue-se o poder dessa shakti para transcender as forças opositoras inertes.
Tal é o propósito do Suddha Pranayama, que exige a prática mental daqueles que desejam alcançar esta felicidade no Yoga, mesmo quando se esteja desempenhando ativamente qualquer ocupação no mundo. Não são necessárias práticas físicas torturantes de nenhuma espécie. Portanto esta modalidade de Pranayama é acessível a todos. Sua prática é sumamente fácil para aqueles que já tenham compreendido quão excelente é o conhecimento sintético. Por isso o Senhor a caracterizou como das mais agradáveis de praticar, e que traz felicidade perdurável (SusukhamKartumavyayam). Faz-se importante afirmar a respeito do Suddha Pranayama, para que se tenha presente na mente, o seguinte:
O Pranayama é um ato (Karma). Toda ação, qualquer que seja esta, produz sempre resultados definidos, pois está sob a influência da bem conhecida lei de ação e reação. Por atos entendamos feitos físicos. Deve-se concordar que os atos são induzidos, invariavelmente, por motivações. Não se excetuam disso nem sequer os denominados atos instintivos. A motivação é uma função da Mente (Manas), e como nenhum ato é possível sem a Mente, esta pode ser considerada como o ator; os membros físicos são apenas suas ferramentas. Por isso, é que se justifica o aforismo de que a mente é o Ishwara, o Deus dos sentidos, ou o Senhor da ação.
Todavia, o Pranayama da variedade Suddha não é um ato físico, mas é exclusivamente mental, que põe a prova o ator (Manas) com o propósito de que a mente aprenda a dirigir melhor o funcionamento físico; o referido ato mental está fundamentado no conhecimento sintético. Vigorada desta forma Manas, consegue obter resultados eficientes em todo sentido, isto é, tanto no espiritual como no material. Vejamos então como opera no plano material.
O que se conhece com o nome de corpo causal (Karana-Sarira), ou veículo do conhecimento do homem foi construído com grande esforço no transcurso remotíssimo de sua existência evolutiva. Diz-se que as partículas materiais que o constituem são de aspecto brilhante e reluzente, constituindo a quintaessência das grandes experiências que ele acumulou em suas vidas anteriores. Se no curso de alguma determinada vida, o aspirante deseja mudar seu modo de existência ou aspirar a algo superior, a única coisa que precisa fazer é extrair, desta grande reserva de “Karana-Sarira” ou corpo causal, as energias aí acumuladas, e trazê-las ao plano físico. Só é possível a utilização dessas energias por meio do Namaskara, ou seja, da rendição mental à Divindade que está em cada um de nós, realizada humildemente. Não há outro meio para alcançá-lo.
O Suddha Pranayama, e outros atos com os quais ele esta associado, em que se exercita a redução das multiplicidades à unidade, tal como já foi explicado, tem em consideração o Namaskara. Pela prática, constantemente executada deste modo tem-se o contato com o Karana-Sarira; as energias ali armazenadas são extraídas e levadas ao corpo físico e por serem espirituais e divinas, elas produzem resultados benéficos em todos os sentidos. É isto que dá uma importância proeminente ao Suddha Pranayama, que bem merece ser praticado por aqueles que aspiram à maior elevação espiritual e material.
OM TAT SAT
Sri T. M. Janardanam
NOTAS:
Nota do tradutor: o autor refere-se à distorção de limitar ou reduzir o significado conceitual do termo “Pranayama”, apenas às práticas de respiração, uma vez que Pranayama engloba muitas outras variáveis além de incluir também a ciência da respiração.
Nota do tradutor: podemos inferir que a menor amplitude a que o autor se refere, diz respeito ao objeto de contato ou de “realização” buscada nas diversas linhas de Yoga. Adhyatma Yoga é o YOGA SUPREMO ou Principal porque sua busca ou objeto de busca é contatar com a Alma Suprema do Universo, ou Mônada Divina, emanada do segundo aspecto da Trilogia de Deus e que se individualiza assumindo todas as formas ao manifestar-se como “O Divino Princípio de Vida” ou “Cristo Interno” ou “Divina Presença Eu Sou”, no coração não só dos humanos, como em todos os seres, ou seja, em tudo o que tenha vida e em toda natureza (ainda que em estado latente).
Eufemismo é “o ato de suavizar a expressão de uma idéia, substituindo a palavra própria por outra mais agradável, mais polida”. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda.
Entende-se como uma respiração absolutamente controlada e magistralmente dominada em cada uma de suas fases.
Trigunas são os três atributos da PRAKRITI ou Matéria Primordial Passiva. Estas 3 qualidades ou atributos fazem parte da natureza da Matéria e existem perfeitamente equilibradas entre si quando no estado estático, ou seja, sem nenhum movimento. Quando movimentadas pela ENERGIA (Shakti) as gunas entram em sucessivos estágios de ação, rompendo o equilíbrio original. As gunas são três (trigunas) e atam os seres humanos durante toda a sua evolução. São elas: SATWA (harmonia, serenidade, equilíbrio); TAMAS (decadência, letargia, paralisação) e RAJAS (atividade, dinamismo, movimento, ação realizadora). O ser humano debate-se entre as 3 gunas até transcendê-las. A manifestação NIRGUNA de Deus, citada neste texto, refere-se a Deus sem forma nenhuma, ou seja, uma concepção de Deus completamente dissociada destas trigunas, sem nenhum atributo ou qualidade, totalmente sem personalidade ou característica pessoal. É o SER ou ESPÍRITO PURO em essência.
Siddhis são poderes ou faculdades extraordinárias e fenômenos adquiridos por Yogues de grande evolução espiritual. Existem todavia dois grupos distintos de Siddhis. O primeiro refere-se a faculdades ou poderes do “eu inferior” e são apenas a mobilização, controle e manifestação de energias psíquicas da mente, como é o caso de vidência, algumas faculdades mediúnicas comuns, a telecinesia, faculdades de engolir pregos, andar sobre brasas, deter as pulsações do coração e outras mais. São estes tipos de poderes ou Siddhis despertados por excessos do controle da respiração e que obstaculizam o progresso na verdadeira evolução espiritual. O segundo bloco de “Siddhis” pertencem ao “Eu Superior” e só são adquiridos após alcançar elevado estágio de evolução; são eles: a clarividência, a telepatia, o dom de curar e outros elevados dons.
Atman é a Chispa Divina, a manifestação individual do Espírito Universal em cada um de nós, também conhecido como Princípio de Vida que é a testemunha silenciosa de todos os nossos atos, pensamentos, desejos e aspirações.
Entende-se Prakritti como “não ser”. Prakritti é a Matéria Primordial Passiva formada por 24 elementos básicos “ou Tatwas” e dominada ou governada pelas trigunas.
Esta concepção de colocar Espírito e Matéria como contraditórios ou opostos entre si, nega a relação de complementaridade existente entre os dois. Suprimir ou reprimir os desejos oriundos dos atributos da matéria (Trigunas) e seus apelos, é também um equivoco. Enquanto alguns exageram no controle da respiração, outros não a veem como necessária ao cuidado do corpo material e das emoções.
Este artigo foi escrito na Índia e publicado pela primeira vez pelo autor em maio de 1940.
Na composição estrutural da MATÉRIA PRIMORDIAL ou Prakriti existem vários planos ou níveis, sendo o mais elevado o Plano Avyakta. É nele que funciona a parte mais sutil, o Anandamaya Kosha ou “corpo de glória”. Quando nós alcançamos ou sintonizamos este plano entramos no estado de consciência que nos proporciona a faculdade a qual denominamos “Dhirti” que em português significa FACULDADE DA SÍNTESE. Um homem liberto e que entra neste estado de consciência passando a funcionar neste nível ou plano (Avyakta), passa a contar com um novo poder, uma faculdade específica, a Faculdade da Síntese (Dhriti), além de seus cinco sentidos e de suas capacidades de concentração e reflexão inerentes a outros estados de consciência. Este estado de consciência faculta-lhe a Capacidade da Grande Síntese, ou seja, ele passa a compreender existencialmente, de forma integral e panorâmica, a “rede de circuitos” que regem o funcionamento do mundo interno, do mundo das relações humanas ou da inter-relação de todos os seres do universo.
Nota do tradutor: observe-se que, em outro momento, o autor aborda que apesar de estarem as três energias interelacionando-se dinamicamente, contínua e ininterruptamente, são UNAS enquanto trilogia.
Nota do tradutor: o autor refere-se à DHYANA (Meditação) como a continuidade do ato que lhe precede e que redireciona a consciência a Deus, ou seja, o ato de expandir a consciência em todas as dimensões. DHYANA, como MEDITAÇÃO ou ESTADO DE PLENA CONSCIÊNCIA, é precedida por Pranayama, que é seu requisito fundamental.
A libertação (Samipya) só é alcançada depois que o aspirante tenha conseguido pela prática de Kumbhaka, a visão dentro de si mesmo do Princípio Átmico, cuja dimensão é do tamanho de um dedo polegar. Mediante a prática da Pranayama da variedade Suddha consegue-se o contato com o Princípio Átmico e desenvolve-se interiormente a capacidade de desempenhar com habilidade as funções no mundo.
Os diversos termos em Sânscrito e o estudo aprofundado de seus significados abordados nos últimos parágrafos poderão ser melhor estudados e compreendidos através dos grupos de estudo sobre Yoga Brahma Vidya e o Bhagavad Gita, realizados na Grande Síntese, à rua Lagarto, 58, Centro, em Aracaju.
“Contato bráhmico” é a eterna aproximação a ELE (Brahma Samipya), uma vez que Brahman é infinito como também transcendente e, portanto, ao identificar-se com ELE, refere-se apenas ao Seu aspecto Átmico (Atma-Bhavasta), o qual é unicamente representativo de Brahman, porém, não é o próprio Brahman. O mérito da eterna aproximação, quando alcançado, também se denomina “Prapti”, que é o quinto dos objetivos primordiais (Purushartas) do homem. O ser liberado que tenha alcançado esta condição, chama-se “Samipya Multi” e a liberação, é superior às outras três variedades que se denominam respectivamente, “Sarupya”, “Sayujya” e “Salokya”.