Neste capítulo daremos uma breve descrição da direção geral das disciplinas que deverão seguir aqueles que se incorporarem à Organização, particularmente no período correspondente às primeiras etapas. O primeiro passo que o candidato deve dar é fazer as promessas1 e comprometer-se em cumpri-las. Ao fazer isso, o instrutor que procede à Iniciação do candidato pode, ou não, dispensar a tomada da mão (Mudra, descrito nas promessas), e invariavelmente o fará, quando o candidato for do sexo feminino. No caso de não haver a tomada de mão, o candidato (a), será tocado no alto da cabeça, com uma Yogadanda, durante a cerimônia.
Depois de fazer os votos, o novo aspirante deverá meditar diariamente sobre o significado de seis excelsas sentenças sânscritas que lhe são comunicadas na cerimônia. Essas sentenças são organizadas em dois grupos. O primeiro implica em meditação no Atma, ou o Ser, em seu aspecto tríplice: sem forma, ou Nirupadhikam; com forma, ou Sopadhikam e transcendental ou Suddha, ou seja, o próprio Ser nega sua identidade com qualquer forma de expressão.
Esse último aspecto é o expresso no Mahavakya2 do Atharvana Veda, assim: Aham Etat Na, que significa “Eu isto não”. Esse é o mais compreensível de todos os Mahavakyas. É necessário chamar fortemente a atenção ao verdadeiro significado do termo Etat. Nele, a palavra Aham, por exemplo, certamente não se refere a essência de um ser individualizado qualquer, mas refere-se à fonte de todos os seres, ou seja, ao Paramatma. Portanto Etat, que é o seu oposto deve também tomar-se, não como veículo corpóreo de um ser individual qualquer, mas sim como a raiz de todos os veículos corpóreos. Sintetizando, diremos que o exposto significa “Mula”, ou raiz de toda a matéria, ou seja, a “Mula Prakriti” (em sentido mais abstrato). Assim como “Aham” indica o primeiro dos três constituintes fundamentais do Parabrahman, representado no Pranava AUM, pela letra “A”, Etat representa o segundo constituinte, assinalado pela letra “U”. Portanto a expressão Aham Etat Na expressa a idéia de algo distinto de Si Mesmo, afirmada pelo próprio Paramatma na forma de hipótese, e ao mesmo tempo, negada por Ele. Sem dúvida não nos é fácil compreender como pode haver uma afirmação e uma negação concomitantemente, sem o menor intervalo de tempo entre elas. Mas é exatamente esse o ensinamento conclusivo; não há nada incompreensível acerca desse ensinamento, se considerarmos que isso não tem referência ao estado de Vyvahara, mas sim ao de Paramartha.
É preciso recordar que a realização do Próprio Eu (Swarupa Gnana) do Paramatma, há de ser totalmente contínua e eterna, por causa de sua onisciência. Certamente ela é diferente, em relação a todas as outras entidades sujeitas às limitações de espaço e de tempo, pois nesses casos a afirmação e a negação devem ser viabilizadas em um lugar determinado e processar-se-ão necessariamente em sucessão de tempo. Daí que em todo Samsara a ordem necessária é: primeiramente Pravritti (o caminho que vai para fora, exteriorização) e logo Nivritti (o caminho de retorno, interiorização). A meditação, com relação a esse primeiro ponto, evidentemente deve basear-se inteiramente no Pranava “AUM”, que é o mais elevado símbolo do Parabrahman, de acordo com todas as Escrituras Indostânicas. A letra “A” representa, na primeira sentença sânscrita, o Ser, puro e simples. A letra “U” representa, na segunda sentença, o Ser em seu estado com forma. A letra “M” representa o próprio Ser negando Sua identidade, com toda forma de expressão.
O segundo grupo de três sentenças prescreve um tipo de meditação que focaliza o aspecto Shakti do Parabrahman, como Gnana Shakti, Iccha Shakti e Kriya Shakti. Há uma importante variação entre as terminações das sentenças que constituem o primeiro grupo e aquelas que constituem o segundo. No primeiro, o termo é Upase – “eu me aproximo” ou “eu contemplo”. No segundo, a frase é Sharanamaham prapadye – “eu me rendo”.
A meditação assim prescrita deve ser efetuada por um longo período de tempo antes que se dê um novo passo. Mesmo que o candidato seja capaz de dedicar uma hora diária para cada uma dessas seis formas de meditação, ele não estará pronto para o próximo passo, antes que tenham se passado três meses. Só depois desse período ser-lhe-á dada uma forma especial de meditação, caso demonstre que já está apto para tal. Por razões específicas de cada candidato, a concessão da instrução especial de meditação difere em muitos casos e prolonga-se por períodos consideráveis de um, dois, três ou mais anos. Essa forma individualizada de meditação deve ser agregada às seis outras formas já mencionadas. Daí em diante, o Anushtana consistirá no que é chamado de Yoga Sandhya e Yoga Gayatri Japa, devendo, ambos os exercícios, serem feitos diariamente antes do nascer do sol; fica à escolha do candidato dedicar a essa prática o tempo que lhe seja possível, durante o resto do dia, ou seja, o tempo para meditar nos sete itens já mencionados. O Sandhya e o Japa são práticas que não tomarão mais de cinco minutos, cada um.
A indicação que fizemos em nosso primeiro artigo sobre a necessidade de 24 anos para concluir um curso inteiro de treinamento, requer uma breve explicação: é esperado que o mínimo de tempo dedicado por cada membro à meditação seja de duas horas e vinte e quatro minutos por dia. Esse tempo é considerado como um dia de trabalho completo, logo é possível, para qualquer membro, encurtar os prazos das disciplinas se dedicarem-se à meditação mais tempo que o mínimo prescrito; e ele terá liberdade para fazê-lo.
Pede-se a cada membro, manter um livro diário no qual deverá registrar as instruções recebidas, bem como todos os outros assuntos relacionados à prática da Yoga Brahma Vidya, incluindo qualquer fenômeno que possa ocorrer dentro de suas experiências. Antes de tratar sobre outros pontos da rotina diária que o membro deve observar, abordamos aqueles que são essenciais em uma explicação bastante original, que se dá no Chandrika, sobre o termo Raja Yoga.
Essa explicação é proferida por Hamsa Yogue, personagem aludido em nosso último artigo. Depois de Narayana, Naradeva e Yoga Devi, Hamsa Yogue parece ser o mais importante, na Assembléia de Sábios que residem em Badari. Ele é considerado como privilegiado de Yoga Devi, e tem o hábito de oferecer-Lhe adoração diariamente, no lago de lótus, absorvendo o néctar de Sabedoria que flui do lótus em que Ela se encontra sentada. O nome Hamsa indica sua verdadeira identidade como “Seboua”, o jardineiro mencionado no livro “O Idílio do Lótus Branco”, escrito por Mabel Collins. Para abreviar, ele representa a intuição e, como na fábula, onde o pássaro Hamsa separa a água do leite, assim também esse Yogue é sempre capaz de distinguir o falso do verdadeiro, dentre a imensa quantidade de dogmas correntes no mundo, e igualmente, descobrir o ouro que jaz enterrado na mina do esoterismo. Ele mesmo diz, em outra parte, que é uma manifestação de Viveka Shakti, um dos cinco aspectos da Shakti de Yoga Devi. Os nomes dos outros quatros aspectos são: Aviveka Shakti (poder de não discriminar), Samuchchita Shakti (poder de correlacionar), Akhanda Shakti (poder de penetrar em todas as partes), e Svarupa Shakti (que é o aspecto inato).
Quanto à explicação sobre Raja Yoga, dada por Hamsa Yogue, fica evidente que lhe foi concedida diretamente pela própria Yoga Devi, e que ele não teria aceitado, mesmo sendo de tão alta fonte, se não fora pela autoridade da Shruti (tradição sagrada recebida por revelação divina) que confirma essa explicação. Hamsa Yogue assinala que a maneira como o importante termo em questão é explicado por Patanjali e outros eruditos, é discutível em maior e menor grau. A explicação que ele dá, em síntese, é a seguinte: os Astrólogos dão ao termo Raja Yoga o significado amplo de um estado de influência e poder, como as prerrogativas de um Rei. É, em sentido bastante similar a esse tipo de estado, que o termo em questão é usado no Suddha Dharma Mandalam. O objetivo das disciplinas prescritas pelo Mandalam é o de assegurar ao Atma no corpo humano – o Rei na cidade de nove portas – suas inerentes prerrogativas reais.
Lembramos que no estado atual de evolução do ser humano, esse Rei (o Atma) só o é em nome, pois, na realidade, ele é um prisioneiro dentro de sua própria cidade (o corpo físico). O termo Raja Yoga na presente questão é, portanto, peculiarmente apropriado, tanto na letra, como no espírito. Porque a palavra Raja (Real) vem da raiz que significa “iluminar”; e Raja Yoga, com relação ao Atma, cuja natureza é Luz, pode ser entendido como abrir as cortinas que impedem essa Luz de irradiar-se em todas as direções. Raja Yoga visa a levar o indivíduo a alcançar o estado soberano para o Atma no corpo, mediante o cumprimento das disciplinas do Mandalam que o impelem a isso realizar. Tentar liberar o Atma do cativeiro, por meio de cerimônias complicadas e tediosas, ou por práticas que preconizam o uso de tortura imposta ao corpo físico, é como celebrar a festa de coroação de um rei a quem se mantém prisioneiro em sua própria cidade. Pelo contrário, o método proposto pelo Mandalam é fácil, agradável e sumamente eficaz.
A excelência do método consiste primeiramente em combinar a meditação no aspecto Atma do Parabrahman com sua Shakti. De acordo com o ensinamento comum a todos os Shastras, desde o Samadeva em diante, a totalidade do trabalho da criação cósmica, pertence ao segundo desses aspectos de Brahman3. Por exemplo, a estância inicial do Saundarya Lahari, atribuído a Shankara, é exposta textualmente como segue: “Sem a Shakti, mesmo Paramashiva não é capaz de mover, nem sequer, uma pequeníssima palha”. Em outra parte fala-se da Shakti com o corpo de Shambhu. E os Grandes Sábios, nos hinos a Ela dedicados, invocam-Na como Mãe Mundial, oceano ilimitado de compaixão, ternura e amor.
Note-se também que, dia após dia, durante toda a vida, meditar na natureza do Ser, como é indicado no primeiro grupo das sentenças, e, ao mesmo tempo, render-se em pensamento ao Supremo Poder é, com segurança, o mais infalível modo de desenvolver-se simultaneamente no caminho do conhecimento e da devoção. O conhecimento preciso, unido ao justo desejo e devoção, necessariamente levam à ação correta. Daí a importância e o valor da combinação mencionada anteriormente.
Em segundo lugar, a excelência do sistema consiste no uso das sílabas místicas ou Bijaksharas, unidas à meditação. Elas constituem, na linguagem figurativa de Hamsa Yogue, os talos em que a fruta madura de Brahm prende-se para que o Yogue colha-a. Outra comparação feita por Hamsa Yogue, a respeito das sílabas de poder, é compará-las ao peito da mãe, pelo qual flui o leite necessário para o sustento do filho. Pode-se dar muita informação detalhada sobre essas sílabas, mas não nos é possível fazê-lo nesse texto. É um esforço em vão especular sobre a natureza dessas “palavras de poder” que os Iniciados recebem em cada uma das quatro Grandes Iniciações, mas asseguramos-lhes que o uso constante e prolongado dessas sílabas místicas, durante a meditação diária, produz vibrações que afetam poderosamente aos diferentes Koshas, ou veículos (corpos), de todos aqueles que seguem o discipulado, para ser Yogue. A causa de tais vibrações e seus efeitos são explicados minuciosamente. São explicações altamente instrutivas e iluminadas, ilustradas por citações adequadas do Shruti. O resumo delas, focalizando apenas um dos seus aspectos, pode ser relatado como segue: Por causa da formação peculiar das letras-sons do alfabeto sânscrito, sua mera pronúncia opera, “ipso facto”, sobre a matéria de um ou outro dos diferentes planos de nosso sistema mundial, produzindo definitivas mudanças atômicas e moleculares, na matéria. Esse é o caso quando a pronúncia faz-se no estado de Para, de Pashyanti, de Madhyama ou de Vaikhari. O poder energético da pronúncia aumenta, ao ser potencializada pela vontade daquele que a emite e a dirige para um objeto em particular. Conseqüentemente tal pronúncia afeta igualmente os Upadhis4 de quem as pronuncia, e, além disso, afetam a matéria daqueles planos de que tais Upadhis estão compostos. A potência dessas letras-sons é uma manifestação da Matrika Shakti, um dos seis grandes poderes microcósmicos5.
Entrando em detalhes, referir-nos-emos, primeiramente, aos nove sons vocálicos do alfabeto sânscrito. Sua potência, semelhante àquela das trinta e três consoantes, estende-se também até o Anupadaka, ou plano Mahat, o segundo de nosso sistema. É também nesse plano que o Hamsa do Ishwara ou fragmento divino, que no Adi ou primeiro plano, constitui o espírito humano, não encarnado, encontra o veículo rudimentar que há de servir-lhe como base para sua futura evolução no quíntuplo universo, começando pelo plano Akásico, ou terceiro plano. A pronúncia da primeira das vogais referidas serve de canal para a expressão do Espírito encarnado como uma entidade independente, ou um Jivatma. A pronúncia das oito vogais restantes serve de canal para a expressão de seus atributos ou poderes.6
Quanto às consoantes, o efeito da pronúncia evidencia-se somente no quíntuplo universo. Vinte e cinco dessas consoantes formam cinco grupos. As cinco consoantes que constituem o primeiro, ou grupo “K”, ao serem pronunciadas, influem sobre a matéria do plano Akásico. As cinco letras do segundo, ou grupo “CHA”, influem sobre a matéria do plano Vayu. As cinco letras do terceiro grupo “TA” influem sobre a matéria do plano Agni. As cinco letras do quarto grupo “TA”, influem sobre a matéria do plano Ap e as cinco letras do último grupo, “PA” influem sobre a matéria do plano Prithivi. Além disso, quando uma das oito vogais é combinada com uma, ou outra, das consoantes, nos cinco grupos, tal combinação serve de canal para a manifestação de um Avastha, ou estado de consciência do Jiva. Este Avastha tem caráter de Pravritti. Não obstante, quando uma dessas vogais é combinada com uma, ou outra, das oito consoantes restantes do alfabeto, a combinação servirá de canal para a manifestação de um Avastha, ou estado de consciência, que tem caráter de Nivritti. Esses dezesseis estados de consciência são classificados sob as quatro divisões principais: Jagrat, Svapna, Sushupti e Turiya, cada uma delas são subdivididas em formas similares, como por exemplo: Jagrat-Jagrat, Jagrat-Svapna, Jagrat-Sushupti, Jagrat-Turiya e assim continuam as seguintes. Além das dezesseis combinações mencionadas, há inumeráveis combinações de vogais e consoantes que formam canais para manifestar ações e reações do espírito e da matéria, comunicadas durante sua longa viagem evolutiva no quíntuplo universo.
Esse tema, relativo ao efeito das emissões dos sons do alfabeto sânscrito e suas combinações, têm sido investigado pelos Adeptos7 durante séculos, e como resultado, a Hierarquia encontra-se de posse de uma grande quantidade de conhecimentos do mais alto valor para a humanidade. O uso de Bijaksharas, como parte do curso na Organização, garante para as pessoas submetidas ao treinamento, acesso para que possam valer-se desse conhecimento que conduz ao progresso na Yoga.
De forma geral, a vantagem principal que essencialmente traz o uso das sílabas é o poder de passar, à vontade, de um corpo sutil a outro e de funcionar conscientemente em qualquer um deles, e poder assim trabalhar no plano correspondente ao veículo em que se está funcionando no momento. Que mais desejaríamos senão, poder, quando quisermos, sair da prisão desse corpo físico, contactar diretamente com os Grandes Seres que estão sempre ocupados nos mundos superiores, em realizar a vontade do Ishwara e aprender, com Eles, as poderosas verdades que trazem sob custódia, para distribuí-las a todos aqueles que desejam converter-se em verdadeiros servidores da raça humana? Aqueles que têm alcançado tal comunhão, mesmo que tenha sido por um breve momento, nunca mais pensarão exclusivamente em sua salvação pessoal. Experimentarão a bem-aventurança, própria àqueles que tomam contato com o plano Budhico ou Vayu, tornando-se capazes de usar seu Anandamaya Kosha ou Corpo de Glória. A única oração que escapará então de seus lábios será:
“Faça-nos teus humildes servidores. Nós como seres separados (desconhecedores da Verdade) não buscamos nada, não esperamos e nem pedimos nada.”
Voltando agora a outra vantagem relacionada ao uso das sílabas, diremos que elas apresentam-se como símbolos efetivos para meditar. De todos eles, o mais importante é o som “OM” (AUM). Seguem-no em importância as três letras que formam esse som. Esses quatro sons formam o símbolo do próprio Brahman e, por conseguinte, a meditação, com sua ajuda, é de inestimável valor para aquele que se encontra no Caminho, pois o grande trabalho nesse Caminho, é, se bem nos é permitida tal expressão, a desidentificação de si mesmo com os Upadhis que o discípulo laboriosamente construía para seu uso, enquanto adquiria experiências no tempo que esteve trilhando o Caminho de Pravritti. O processo de desidentificação é efetuado em todas as instâncias, pelo fato de que o sistema de meditação que se deve seguir obriga a manter o pensamento sempre fixo no Ser estabelecido no coração individual, em todos os corações e em toda a natureza.
O que foi dito até aqui, por certo, não toca senão na borda da interessante e importante matéria referente às silabas místicas. Deixando de lado seu significado esotérico, só foi possível fazer referência a dois ou três assuntos óbvios em relação às mesmas. Todavia, foi dito, com suficiente segurança, o necessário para demonstrar que o elogio feito por Hamsa Yogue, ao uso dos sons de poder, não é mera fantasia, pois apóia-se em uma base verdadeira (científica) e no fato de que qualquer um que se sinta inclinado a isso pode verificá-lo por si mesmo, seguindo o sistema de meditação tão altamente recomendado pelo Yogue.
Para reforçar a explicação dada por Hamsa Yogue sobre o significado da palavra Raja Yoga, apresentada anteriormente, o Yogue chama a atenção às passagens das escrituras, mencionadas por Yoga Devi, quando Ela o instruiu sobre essa matéria. Essas passagens formam parte do sexto capítulo do Taittiriya Upanishad, que dá a entender que contém as instruções fornecidas por um Mestre, a um aluno. As sentenças aqui pertinentes são:
“Por este meio é feita a meditação no Ser, dentro do coração, efetuando o governo de si mesmo e adquirindo assim o controle mental, através do domínio da visão, da audição, da fala e do conhecimento”.
Só nos resta agora assinalar uns poucos conselhos importantes, ligados à vida diária, que devem ser observados pela pessoa que se encontra sob essas disciplinas. É recomendável ao discípulo que, ao despertar, imagine que ouve a voz de um Mestre dizendo-lhe que reze pelo bem estar de todos os seres, pois de tal modo o que há de melhor, poderá vir a ocorrer a ele mesmo. Então ele deverá pronunciar mentalmente uma oração para cumprir esse mandato. A seguir oferece saudações a Yoga Devi e roga ser inspirado por Ela para resolver qualquer assunto que tenha de cumprir durante o dia. Depois repete os seguintes cinco preceitos chamados Upadeshapanchakam:
MANGALA GAYATRI
ABHEDANANDAM SACHITRAM
PARAMBRAHMA VEDASAHA
YOVYAYATMA SAMACHITTA RANGAHA
DEVIM KALYANA SHAKTIM PRAPADYA
SARVAM PRAVISATHI
AMRTO HAM AJARO HAM
LOKEBHYAHA SUKAMEDATAM
OM SRIM SAUH SRIM SAUH SRIM SAUH.8
A mais excelsa manifestação de Deus é nosso próprio espírito, eternamente glorioso dentro do akasha ou éter do coração. Nosso Espírito no coração é o Filho de Deus, à sua imagem e semelhança. É o Ser perfeito, de inteligência transcendental. Ao tomar contato com esse Divino e Glorioso Poder, a suprema finalidade humana realiza-se. Nós, com esse contato divino, chegamos a compreender a nossa imortalidade, que somos sem princípio e sem fim. Com a sabedoria, o poder e a glória irradiantes do nosso espírito, desejamos que todos os seres alcancem a bem-aventurança. Om Srim Sauh Srim Sauh Srim Sauh.
Pede-se, em seguida, ao discípulo para fazer um pouco de exercício antes de seu banho. E depois de banhar-se que faça suas práticas. A razão pela qual é indicado fazer as práticas antes da saída do sol, é porque o período do dia mais adequado para os ritos e meditações está entre as 2:00 até o amanhecer, pois nesse período de tempo, predomina a influência de Saraswati Shakti.
Os conselhos relativos à alimentação e à recreação são muito similares aos contidos no Bhagavad Gita e aos que se encontram também no Chandrika. Recomenda-se a fiel e honesta execução de todo dever em relação com a própria família, com sua profissão ou seu negócio. Recomenda-se o estudo diário dos Upanishads, do Bhagavad Gita e de alguns dos Puranas, tendo cuidado o estudante em compreender os ensinamentos esotéricos contidos neles, com ajuda das explicações que possam ser encontradas no Kandarahasya, tratado a que fizemos referência em nosso último artigo9.
Finalmente pode-se observar que esta obra apresenta-se como um tratado extenso, uma vez que contém uns quarenta mil Slokas. Parece não existir obstáculo quanto à publicação da referida obra, apesar de ser privada e confidencial, e por isso inacessível ao público em geral. Todavia não há muita probabilidade de que alguém empreenda essa publicação. As circunstâncias econômicas da Organização impedem, por mais de uma razão, que ela tome a seu cargo, essa publicação, e é improvável que a empresa privada sinta-se atraída a isso, no futuro próximo. Esperamos, contudo, que o referido livro venha à luz algum dia, e contribua para elucidar muitos mitos e exposições das Sagradas Escrituras hindus que, no presente, impedem toda tentativa de aclará-los.
Sri Subrahmanyananda
Setembro de 1915
Notas
- Faz parte do artigo II, um apêndice que será distribuído, em ocasião propícia, apenas aos membros consagrados por tratar de promessas que devem ser feitas pelos discípulos, ao instrutor, no momento de sua Iniciação.
- Mahavakya é um postulado, ou conjunto de princípios que regem um tipo determinado de funcionamento. O funcionamento de um Yogue, executado conscientemente será o funcionamento unitário ou integral. Tal funcionamento está alicerçado, segundo os ensinamentos do Suddha Dharma Mandalam, em alguns princípios que se encontram nos três postulados (Mahavakyas) citados a seguir. Esses três postulados resumem a concepção da Síntese: “Sarvam Tat Khalvidam Brahm” - Tudo é Brahm. “Sarvam Brahm Swabhavajam” - Tudo é da natureza de Brahm. “Sarvam Avasyakam” - Tudo é necessário. Esses Mahavakyas destacam o enfoque da Síntese.
- Em muitos escritos o termo Brahma (Criador) é confundido com a nomenclatura Brahman (ou Brahm) que é o Absoluto, o Imanifestado. Ele é o Espírito Universal, de onde tudo emana e para o qual tudo retorna. Para aqueles que ainda não estão familiarizados com a Literatura Sagrada da Índia, convém dar esses esclarecimentos, para motivar a busca de um aprofundamento. Brahman (termo usado no Gita simplesmente como “Brahm”) é a Essência do Universo, é o princípio e o fim de todos os seres, que a Ele retornam inequivocamente e sempre, após cumprir o seu “tempo” no sistema global criado. Brahman é Imanente em todo o Universo e atua manifestando-se em todos os níveis de consciência, e em todos os seres, sejam eles de alta evolução ou quase semi-conscientes, como em um micróbio, por exemplo. Nos seres mais elementares, manifesta-se como “semi-consciência” e assim sucessivamente até manifestar-se como “consciência total”, ainda que, por ser a evolução (dos seres) tão lenta, torna-se imperceptível a nós, como é imperceptível o crescimento do corpo físico de uma criança. Brahman é uma Unidade sem partes em Sua natureza última. Devido às nossas limitações, nossa mente coloca a atenção em um ou outro de seus aspectos, sem possibilidade de apreendermos o significado do “Absoluto”. A Trimurti, ou três manifestações do Absoluto Brahman, exerce as funções de criação (Brahma), preservação (Vishnu) e Reintegração (Shiva).
- Upadhi - base, molde, substância que define ou limita; veículo portador de alguma coisa menos material que ele próprio; como o corpo humano é o Upadhi de seu espírito, o éter é o Upadhi da luz etc.
- Uma breve descrição destes pode-se encontrar no relato de Mr. T. Subba Row, sobre “Os Doze Signos do Zodíaco” contido em suas escrituras esotéricas. (Esoteric Writings pg. 7-8).
- Por tratar-se de detalhes e minúcias referentes aos ensinamentos doutrinários, lançaremos brevemente dois outros livros que trarão mais luzes a esse e outros assuntos técnicos dos Ensinamentos do Suddha Dharma Mandalam. O primeiro, tratará do mistério que envolve a descida de Encarnações Divinas ao planeta e o segundo, são quatro ensaios de Suddha Raja Yoga escritos por Sri Janárdanam.
- O termo Adepto corresponde aos Seres de alta evolução ou ascencionados que velam pelo progresso da humanidade e fazem parte da Fraternidade.
- As estrofes mântricas desse Gáyatri podem também ser traduzidas da seguinte forma: A excelsa manifestação de Brahma é a Verdade eternamente gloriosa dentro do Akasha do coração. É o Ser Perfeito de inteligência transcendental. Ao tomar contato com esse Divino e Glorioso Poder, realiza-se (em nós) O Supremo. Eu chego a compreender minha imortalidade e que sou sem princípio nem fim. Que todos os seres alcancem esta bem-aventurança. Om Srim Sauh Srim Sauh Srim Sauh.
- Ainda hoje é recomendado aos que são aceitos na Organização o fiel cumprimento dos deveres para com a família e na profissão, bem como o estudo diário do Bhagavad Gita. Os conselhos relativos à alimentação são claros, mas deverão ser assumidos gradualmente, sem rigor excessivo, para que não haja retrocesso depois de iniciado o percurso como membro do Mandalam.