O Fundamental Sobre a Paixão


INTRODUÇÃO

O Srimad Bagavad Gita ou Gloriosa Canção do Senhor é uma das mais veneradas Escrituras Sagradas da Índia. A versão tradicional possui 18 capítulos e é mundialmente conhecida. Todavia, a versão a qual nos referimos possui 26 capítulos, com 745 slokas ou versos, e é a expressão da Yoga Brahma Vidya ou Ciência Sintética do Absoluto - Síntese de elevado Conhecimento Espiritual. Essa versão original foi editada e publicada pela primeira vez somente em sânscrito, no ano de 1917, na Índia, pelos Mestres do Suddha Dharma Mandalam Association.

Tratamos aqui de uma versão do Bhagavad Gita e demais ensinamentos originais, provenientes das Bibliotecas Ocultas do Mandalam, que ficam na Maha Guha (Grande Gruta), situada nas montanhas geladas da parte setentrional dos Himalaias. Os manuscritos originais destes ensinamentos ficam sob a custódia dos Guardiões do Tesouro da Sabedoria Universal e permaneceram na Maha Guha por milênios, até o ano de 1917, quando, por vontade e decisão dos Maiores do Mandalam, foram dados a conhecer atraés de Sri Subrahmanya Iyer, homem de alta nobreza espiritual, Juiz da Alta Corte de Justiça de Madras (Índia) e dirigente da Escola Esotérica da Sociedade Teosófica, naquela época. As primeiras edições foram feitas em sânscrito, por Sri Subrahmanya e pelo Pandit K.T. Srinivasachariar, e posteriormente traduzidos por Sri Vasudeva Row e editadas em inglês por Sri Janárdanan, a Terceira Autoridade Iniciática Externa do Mandalam.

Antes de seu falecimento, ocorrido em 18/09/1966, dez meses após sua última visita ao Brasil, em 1965, os labores de Sri Janárdanan referentesà América Latina a Sri Vajera Yogue Dasa - Instrutor Continental para as Américas - que veio, posteriormente, a partilhar tal meritória responsabilidade, quanto ao extenso território brasileiro, com um grupo de Dasas, composto por cinco Gnana Dhatas e vários Emissários, de diferentes pontos do Brasil.

Reconhecemos que o Gita é um Tratado de Alta Filosofia, referente aos Ensinamentos Milenares da Sabedoria Oculta, e que estamos diante da mais completa versão já revelada aos homens. Seu estudo, através de "temas" ou "chaves", enriquecerá a abordagem apresentada na série Luzes do Gita. Nesta postagem, abordaremos a primeira chave: "A Paixão".

Om Namo Narayanaya

Om Namaha Shivaya

Om Man Sri Bhagavan Mitra Devaya Namaha

Om Sri Yoga Deviay Namaha

Om Tat Sat

 

CAPÍTULO I

A ESCRAVIDÃO DA PAIXÃO

Iniciamos nossa viagem interior com uma proposta ao leitor e estudante: Se desejamos realmente entender a escravidão causada pelo apaixonamento em nossas vidas, precisamos estar vazios de conceitos e preconceitos, para refletir com honestidade em cada um dos slokas desta publicação, relacionando-os com nosso cotidiano. Vamos dividir didaticamente o estudo desta chave do Gita em três recortes:

A escravidão causada pela paixão;

A maneira como podemos transcender a paixão;

O Homem liberto das paixões.

Vejamos a seguir o primeiro recorte.

1. O QUE É A PAIXÃO

Nossa personalidade transitória é representada neste esplendoroso texto da “Canção do Senhor” ou Bhagavad Gita, pela figura de Arjuna, que inicia sua odisséia entrando em estado alterado, pois em nosso mundo evolutivo, regido pela lei da ação, não há lugar para a vacilação provocada pela ignorância das Leis Divinas...

Perplexo e desanimado, inundado pelo apego ao resultado de sua luta, causado por sua postura apaixonada à sua causa, Arjuna (e todos nós em cada processo individual de nossa trajetória terrestre) suplica ao Senhor Krishna Sua suprema instrução.

CAPÍTULO I - 45 ½: “Invadido por transitória compaixão, e ao mesmo tempo entristecido, assim falou:”

Disse Arjuna:

CAPÍTULO I - 46: “Oh Krishna!, ao contemplar meus parentes reunidos desejosos de combater,”

CAPÍTULO I - 47: “Meus membros desfalecem, torna-se lívida minha face e sobrevém uma agitação no meu corpo, como também uma sensação de estremecimento.”

CAPÍTULO I - 48: “O grande arco Gandiva escorrega de minha mão, e arde toda a minha pele, já não sou capaz de manter-me firme, e minha mente parece vacilar”.

CAPÍTULO I - 49: “Ó Keshava! (o Senhor) julgo que as poderosas razões que eu tinha para combater parecem-me agora como se fossem o contrário; tampouco creio que nossa prosperidade aumentaria à custa da morte de meus parentes na batalha.”

CAPÍTULO I - 50: “Que perdurável iniqüidade estamos empenhados em perpetrar, esforçando-nos por um prazer de mera cobiça, para nos apoderarmos da soberania da Terra, sacrificando nossos parentes!”

CAPÍTULO I - 51: “Certamente é mais meritório viver de esmolas que matar estes Preceptores de elevado espírito. Além disso, como poderia eu alguma vez, sacrificando estes Mestres de nobre aspiração, gozar aqui destes festins manchados de sangue?”

CAPÍTULO I - 52: “Não sabemos ainda qual das duas atitudes antes mencionadas nos conduziria à prosperidade; e também ignoramos se alcançaremos a vitória ou se seremos derrotados; ainda mais, matando todos estes filhos de Dhritarashtra, resolutamente alinhados diante de nós, talvez, daqui por diante, não desejaríamos viver!”

CAPÍTULO I - 53: “Meu entendimento se desvia pelo corruptor apego pessoal ao fruto da ação, causado pela ignorância do Supremo Dharma (Suddha Dharma). Aspiro aprendê-lo de Ti; instrui-me nesta Ciência divinamente revelada. – Eu sou Teu discípulo, salva-me, ó Senhor! Rendendo-me, suplico-Te!”

CAPÍTULO I - 54: “Assim falou humildemente Arjuna no campo de batalha, e abandonando o arco com a aljava, encaminhou-se para a frente do carro onde estava sentado o Divino Cocheiro, permanecendo ali com a mente perturbada por dolorosa angústia, diante da ação que deveria decidir a praticar.”

O Senhor, aqui representado pela figura de Krishna, como Revelador da Verdade, observando a perturbação que invadia a mente confusa de Arjuna, adverte-lhe; e, portanto adverte a todos nós que, diante das escolhas que a vida nos impõe e que nos causam grandes perturbações, até mesmo o mais inteligente dos homens torna sua ação paralisada se, por entendimento falso, envolve-se em qualquer ato de forma apaixonada. E explica a causa disso: “quando estabelecemos uma relação apaixonada com qualquer causa, ainda que nobre, nossa ação é contaminada pela ira e muitas vezes também pela inveja ou cobiça. Tal contaminação retira a nobreza de qualquer ação, ainda que justa”.

O senhor continua sua advertência: “mesmo assim fragilizado, não cedas à inação, lembra de tua dignidade como ser humano, pára de afligir-te por quem não merece teu zelo, busca agir com equanimidade e afasta a covardia emocional, produto do teu apaixonamento pelas tuas obras”.

CAPÍTULO II - 1: “Ó Bhárata!,(Dhritarashtra) Hrishikesa (o Senhor), sorridente, falou as seguintes palavras a Arjuna, que se mostrava perturbado e confuso entre os dois exércitos”

CAPÍTULO XIX - 22: “Este inimigo, (A influência dos Sentidos, isto é, o apaixonamento e seu resultado que obscurece a razão) ó Kaunteya,! sob a forma de constante paixão pessoal, consome o Entendimento até de um aspirante inteligente, como se fosse um fogo voraz.”

CAPÍTULO XIX - 23: “Tal apaixonamento e seu resultado, isto é, a ira emanada da qualidade de Rajas, deve ser considerado como o mais destrutivo e prejudicial inimigo.”

CAPÍTULO II - 2: “Tu te afliges por aqueles que não o merecem; não obstantes pronuncias palavras de sabedoria; os sábios não se lamentam pelos ignorantes, nem pelos doutos se regozijam.”

CAPÍTULO II - 3: “Ó Arjuna!, estás dominado pela confusão nascida da falta de equanimidade. Este desequilíbrio é contrário ao espiritual, frustrando a elevada finalidade e tendendo a obstaculizar a Beatitude.”

CAPÍTULO II - 4: “Ó Partha! (Arjuna), não cedas à inação; isto não é digno de ti, ó tu Conquistador! Rechaça esse deprimente desalento mental e empreende a elevada ação!”

Agora, o Senhor exorta Arjuna a empreender a elevada ação que lhe é apontada e ensina-lhe as bases para executá-la impessoalmente e para o bem do mundo.

CAPÍTULO XXVI - 19: “Se combatendo (atuando com discernimento átmico), fores morto na batalha (execução das ações), alcançarás a Bem-aventurança; ou se viveres, vitorioso, serás igualmente bem-aventurado neste mundo: portanto, ergue-te, ó Kaunteya! , decidido a lutar. (Executar impessoalmente o trabalho [ou ação] legítimo e necessário).”

CAPÍTULO XXI - 10: “O aspirante, cujo discernimento átmico está obscurecido pelo egoísmo, considera o Princípio de Vida como a Causa próxima de todas as ações; porém elas são, em realidade, causadas pelas tríplices qualidades da Matéria (Gunas).”

CAPÍTULO XI - 23: “Ó Arjuna!, todo conjunto das ações (Loka-Vyavasaya, isto é, o Pravritti e o Nivritti do aspirante), implica no retorno do aspirante (ao plano físico) repetidas vezes, até que ele logre a Brahma-Prâpti (o mais alto estado de consciência ou Realização Brâhmica), ó Kaunteya! Porém, se Me alcanças (o Atma) através do Yoga, transcendendo os caminhos de Pravritti e Nivritti, nunca mais retornárás.”

CAPÍTULO XXIV - 10: “Aqueles que não têm discernimento sintético, gozando no imenso Swarga (Céu mental) saboreando todos os frutos da ação até a exaustão, descem novamente, ao mundo mortal da ignorância; assim estes, seguindo os trigúnicos Vedas, em busca dos prazeres, experimentam o nascimento e a morte, estando constantemente envolvidos no próprio Pravritti e Nivritti.”

CAPÍTULO XI - 19: “Estas sendas (período de tempo), denominadas “clara” e “escura”, respectivamente, sempre existem no processo do mundo (Samsara); seguindo a senda da claridade, o aspirante retorna com maior progresso; porém se percorrer a senda escura, regressa sem avanço efetivo.”

CAPÍTULO XVI - 21: “Aquele que não segue esse ciclo do processo do mundo (Samsara), assim manifestado, leva uma vida de limitado entendimento, estando apegado meramente aos objetos dos Sentidos; ele, ó Partha!, vive em vão.”

CAPÍTULO XXIV - 11: “Sempre para o bem deles, compadecendo-Me, Eu, que habito como Atma neles, dissipo a escuridão da ignorância deles (quanto ao conhecimento átmico) por meio da luminosa lâmpada da Sabedoria (entendimento átmico).”

CAPÍTULO XXI - 14: “Somente os Videntes, com os olhos do Conhecimento – e nunca aqueles que estão desprovidos deles – contemplam o Princípio de Vida, seja transmigrando (reencarnando) ou permanecendo e atuando, desapegados ou sujeitos à escravidão das Gunas.”

Em resumo, o que é a paixão?

É a atuação na qual a pessoa esquece, momentaneamente, que o Princípio de Vida que habita no âmago de cada um de nós NÃO É causa de nossos sofrimentos, uma vez que estes são causados pelos três atributos embutidos na natureza mesma da manifestação de tudo na matéria (as gunas). Esse limitado entendimento cria apego aos objetos que nossos sentidos captam e, desta maneira, iludimos-nos achando que satisfazer nossas sensações (que são essencialmente emocionais) vai resolver nossa angústia interior.

Por pura Misericórdia e Amor, o Senhor, Ele mesmo, que habita sob a forma de Atma em cada ser, esparge Luz em pulsações ininterruptas, até que a pessoa incorpore o grau de sabedoria que chamamos de discernimento átmico; então, sem desalento mental e sem desistir de suas obrigações, executa sem nenhum envolvimento pessoal, aquela missão (tarefa) que lhe foi confiada na sequência histórica da evolução da humanidade, à qual pertencemos. Isto refere-se à missão de toda nossa encarnação atual e também a cada decisão que gera cada ato nosso, no uso de nosso livre arbítrio.

Nota: Atma é a Alma Suprema do Universo, que se individualiza, manifestando a Si mesma no coração de cada ser, como o “Divino Princípio da Vida” ou “Divina Presença Eu Sou”.

Como detectar se nossa ação reveste-se de paixão?

QUALQUER AÇÃO APAIXONADA PROVOCA PERTURBAÇÃO E ANGÚSTIA NA MENTE, ALÉM DE GERAR DÚVIDAS SOBRE A NECESSIDADE, OU NÃO, DE REALIZAR AQUELE FEITO.

É UMA ATUAÇÃO NO FUNCIONAMENTO DO MUNDO, NA QUAL NOSSO ENTENDIMENTO FICA DESVIADO PELO APEGO PESSOAL AOS RESULTADOS.

É UMA ATUAÇÃO EQUIVOCADA, ORIUNDA DA IGNORÂNCIA DOS PARÂMETROS SUPERIORES DA LEI DO ESPÍRITO (OU LEI DIVINA).

O “CAMPO DE INTERFERÊNCIA”, ONDE OPERA O APAIXONAMENTO, ESTÁ ALOJADO NA MENTE EMOCIONAL (MANAS), E PORTANTO NOS SENTIDOS: ELE PODE BLOQUEAR O ENTENDIMENTO.

A PERDA DO DISCERNIMENTO É PROVOCADA PELO APEGO, QUE PROVOCA IRA, QUE POR SUA VEZ DEBILITA O INTELECTO, OBSCURECENDO ASSIM O DISCERNIMENTO ÁTMICO, QUE É NOSSO ÚNICO CANAL PARA CONTACTAR A LUZ (Deus em nós – o Atma)

 

2. CARACTERÍSTICAS DA PESSOA ESCRAVIZADA PELA PAIXÃO

O Gita aponta os prejuízos que a paixão traz a nossa vida, escravizando-nos a maquinações mentais desordenadas, na ilusão de que a felicidade temporal aliada ao prazer trazido à nossa vaidade, por nosso orgulho e pela satisfação das sensações causadas por nossos sentidos, seja nossa META principal.

Quando a paixão por alguém ou por alguma meta pessoal nos toma, passamos, de forma sutil e quase sem percebermos, a deixar-nos vencer por sentimentos mesquinhos e orgulhosos. Sorrateiramente, a cólera, a arrogância e a crueldade mesclam-se aos nossos atos em todos os nossos relacionamentos. É como se perdêssemos nosso eixo, nosso centro.

Condutas separatistas e permeadas de violência escravizam as pessoas que se deixam dominar pela paixão em qualquer esfera de suas vidas, seja da vida amorosa, da profissional ou de qualquer outra de suas relações sociais e políticas.

Muitos desejos surgem na mente (manas) do apaixonado e seu propósito torna-se, paulatinamente, cruel e daninho, chegando a utilizar ações torpes para manter-se na posse de seus objetos de paixão (sejam eles pessoas, dinheiro ou poder).

Neste recorte de nossos estudo apontamos, no GITA, a descrição do inferno interior daqueles que estão escravizados pela paixão, em qualquer nível e intensidade.

CAPÍTULO VIII - 5: “Oh Partha!, o orgulho, a arrogância, a presunção, a cólera, a crueldade, como também a ignorância da existência do Princípio de Vida, caracterizam aquele que nasceu com a herança dos Viciosos (egoístas).”

CAPÍTULO VIII - 8: “As pessoas viciosas não sabem como funcionar impessoalmente na atuação objetiva, nem tampouco na subjetiva; nelas não há pureza, nem disciplina, nem veracidade.”

CAPÍTULO VIII - 9: “Os Viciosos consideram o mundo (e seu processo evolutivo) como falso (ilusório), sem base, sem considerar o divino, acreditando que ele se mantém manifestado, não por meio da mútua (e coletiva) interação do Atma (Espírito) e da Prakriti (Matéria), mas meramente por causa de sua natureza passional (aquela que realiza ações de forma unilateral em detrimento do espiritual).”

CAPÍTULO VIII - 10: “Sustentando esse ponto de vista, eles, sem discernimento átmico, são de limitado entendimento (separativistas), sendo de violenta conduta e de malévola natureza, de caráter destrutivo (que retardam o processo evolutivo dos mundos).”

CAPÍTULO VIII - 11: “Eles, obcecados por insaciáveis e obscuras paixões, dominados pelo orgulho, pela vaidade e insolência, por egocêntricas intenções, sem discernimento espiritual, alimentando propósitos iníquos, ocupam-se em ações egoístas.”

CAPÍTULO VIII - 12: “Sempre entregues a desordenadas maquinações e considerando a satisfação própria como o mais elevado propósito, crêem firmemente que esta felicidade temporal é a mais alta finalidade da existência humana.”

CAPÍTULO VIII - 13: “Sujeitos à influência de muitos e prejudiciais desejos, dominados por densas paixões e pela ira, esforçam-se indevidamente para assegurar a si mesmos o máximo de bens, a fim de satisfazer a seus próprios sentidos.”

CAPÍTULO VIII - 14: “Estas pessoas (os Viciosos) pensam assim: “Isto foi obtido por mim, eu protegerei meus bens. Tenho isto agora, e desta riqueza resultará em mais lucro para mim”

CAPÍTULO VIII - 15: “Este inimigo foi morto por mim; ainda poderei matar outros também. Sou o soberano de tudo e desfruto; sou competente, poderoso e feliz.”

CAPÍTULO VIII - 16: “Sou rico e de elevado nascimento, quem mais é igual a mim? Executo rituais, pratico a caridade e me regozijo. “Assim permanecem cegos pela ignorância, destituídos do conhecimento de seu próprio Ser (Atma Gnana).”

CAPÍTULO VIII - 17: “Enganados por muitas idéias deturpadas, enredados no labirinto do erro (sem Atma Gnana ou Conhecimento Espiritual), sempre entregues aos prazeres dos Sentidos, eles descem ao inferno do mais absoluto egocentrismo.”

CAPÍTULO VIII - 18: “Sempre elogiando a si mesmos, obstinados, orgulhosos de suas possessões, e de escasso entendimento, executam orgulhosamente sacrifícios e rituais, por vaidade, em desacordo com o Dharma Shastra ou a Lei Divina (Bhagavad Dharma).”

CAPÍTULO VIII - 19: “Dados ao egoísmo, confiados em seu cego poder, inclinados à arrogância, paixão e ira, sempre invejosos, aviltam-Me (ao Princípio de Vida) neles mesmos e nos demais.”

A seguir o Gita fala-nos sobre seres de natureza inferior, temidos por aqueles que os vêem como tendo natureza demoníaca, e aponta os seres dominados pela paixão em sua atuação, como sendo de nascimento asúrico.

Não está, todavia, citando uma categoria de demônios; apenas faz um paralelo com a parte inferior, presente em todos os seres humanos, que pode os impelir a deixar-se escravizar aos ditames de sua própria natureza inferior, atando-o na busca de feitos crivados de fins pessoais e egoístas.

Seres asúricos não precisam ser apartados ou temidos, basta que se compreenda o papel que desempenham no processo evolutivo mundial, no “cumprimento do Decreto Divino” ou “Plano da Providência Divina”.

Estes seres humanos, pervertidos ou inativos, estão totalmente dominados pelos três atributos da Matéria (Tamas, Rajas e Satwa) além de estarem quase totalmente desprovidos, de discernimento átmico, em conseqüência disso, caracterizam-se por serem separatistas e de inclinações egoísticas.

Só há uma maneira de resolver esse hiato: torná-los conscientes de que Deus (Eu Sou) é a Causa-de-Tudo. Todavia isto não se faz com pregações morais e religiosas, com ameaças ou com um enfrentamento combativo corpo a corpo, de forma física e material.

Já que eles (ainda) não compreendem a Equação Divina, é preciso demonstrar isso matematicamente, MANIFESTANDO em nossa própria vida o contato átmico (com a LUZ do Coração).

Não resistir ao mal. Apenas SER.

CAPÍTULO VIII - 20: “Eu (a Lei Eterna) os julgo inimigos da Lei (Sanátana Dharma), opressores, atuando muito incorreta e inauspiciosamente no processo do mundo (Samsara) sendo, além disso, de nascimento asúrico. (diabólico).”

CAPÍTULO VIII - 21: “Caracterizados por natureza asúrica, e carecendo continuamente de discernimento espiritual, em lugar de reconhecer-Me como a Lei, eles trilham o caminho da dor e do sofrimento (ciclo dos nascimentos e mortes).”

CAPÍTULO III - 11: “Os egoístas, motivados por desejos pessoais, empenhados em ações que visam a benefício próprio, sendo de idéias separatistas, buscam Minhas manifestações nas Asúricas, Rakshásicas ou sedutoras (Mohini) formas materiais, que só proporcionam prazeres efêmeros.”

CAPÍTULO XXII - 6: “Aqueles que adoram os Devas (Aspectos da Divindade) desejosos do fruto da ação aqui nesta vida, sem demora o obtêm neste mundo dos homens.”

CAPÍTULO VI - 18: “Os pervertidos, inativos, desprovidos de discernimento átmico, dominados pelas Trigunas e, em conseqüência disso, caracterizados por separatistas e egoísticas inclinações, inconscientes de que Eu Sou a Causa de Tudo, não Me compreendem como tal.”

CAPÍTULO VI - 19: “Os Yogues, praticando o Yoga, conhecem Aquele como o Princípio Interno Imanente; porém aqueles que, ainda que sejam Sannyasins, são indisciplinados no Yoga e dominados pela influência das três Gunas, não O reconhecem como tal.”

CAPÍTULO XXIV - 22: “Aquele que não tem tal entendimento nem fervor (Shraddhá), sendo perturbado pelas dúvidas, não tem êxito, ficando retardado no processo do mundo (Samsara); também, para aquele cuja Mente está sempre cheia de dúvidas, não há êxito neste mundo nem no outro, nem tampouco felicidade.”

CAPÍTULO III - 12: “As pessoas carentes de discernimento átmico consideram-Me somente como ser humano, enquanto manifesto-Me como homem entre elas, não reconhecendo Meu supremo estado como Maheshwara, ou o Transcendente. (Paramatma)”

CAPÍTULO IX - 5: “As pessoas de natureza orgulhosa e egoística, que são impelidas por forte e passionais gostos e desgostos, bem como quem pratica severas austeridades, contrárias aos mandamentos do Shastra,”

CAPÍTULO IX - 6: “Destituídas de discernimento espiritual, atormentam a constituição elemental do corpo, como também a Mim (Atma) que moro dentro dele; por isso, considero-as de convicções asúricas.”

CAPÍTULO XXII - 4: “Estas pessoas, sempre desejosas do fruto da ação para si mesmas, anelam seguir a senda do prazer, a qual conduz ao Céu Mental (Swarga), através de múltiplos sacramentos e rituais particulares; consequentemente são mais dominadas pela paixão.”

CAPÍTULO XXII – 5: “A estas pessoas, que são fortemente apegadas a meros prazeres materiais, e portanto carecem de discernimento átmico, falta inteligência para sintetizar todos os esforços necessários a fim de obter a austera tranquilidade, indispensável para a prática yóguica.”

 

3. INFLUÊNCIA DOS SENTIDOS NO APAIXONAMENTO

Após descrever o que é a ação apaixonada ou apegada e as características de quem está dominado por esta maneira de funcionar no mundo, o Senhor aponta a imperativa necessidade de recorrer à ENERGIA DO PURO ESPÌRITO DO SENHOR (Ma Brahma Shakti), para, de acordo com nosso livre arbítrio, aprender a libertar-nos das três gunas (Satwa, Rajas e Tamas), que causam escravidão durante nosso processo de seres em evolução, fazendo-nos oscilar entre a dor e o prazer.

A comparação apresentada no sloka 21, do capítulo XIX, deixa claro que a influência de nossos sentidos embota nosso entendimento, quando nos colocamos de forma apaixonada e personalizada diante de qualquer ato, no dia a dia.

Tudo aquilo que tem princípio e fim, se contatado através dos sentidos e das emoções, e não através do coração (feeling), gera sofrimento e embota o discernimento.

CAPÍTULO XIX - 21: “Assim como a chama é rodeada pela fumaça, como o espelho é embaçado pelo pó, como o embrião é circundado pela placenta, assim este conhecimento, que corresponde à verdadeira Ação, é obscurecido pela influência dos Sentidos.”

CAPÍTULO XIX - 24: “Este inimigo tem sua influência e campo de operação nos Sentidos (Gnanendriyas ou Sentidos cognoscitivos), na Mente (Manas ou Mente emocional), e no Entendimento (Buddhi), e por meio deles confunde o aspirante, obscurecendo seu discernimento átmico.”

CAPÍTULO XVI - 24: “As experiências que resultam do contato com os objetos dos Sentidos são geradoras de sofrimento, visto que estão limitadas por um princípio e um fim; ó Kaunteya!, o Vidente nunca se deleita com elas.”

A Matéria engendra na sua manifestação três tipos de influência, que impõem escravidão do Princípio Imortal que está em cada um de nós, ou seja, há três influências que são inerentes à própria manifestação da Matéria, e por isso dominam o Espírito Individualizado, que vive no interior de cada criatura humana.

Nesta parte de nossos estudos vamos diferenciar qual tipo de domínio é exercido por cada uma dessas três influências (gunas). A reflexão sobre esses pontos vai nos municionar para operacionalizarmos, em nós mesmos, o esforço para minimizar as conseqüências destas três influências em nossa trajetória de vida.

Mantendo em pauta a consequência do funcionamento apaixonado em nossa maneira de viver o cotidiano, continuamos nossas reflexões: se, pelo egoísmo que gera o apego, a pessoa deixa levar-se pela ira, pelas explosões de raiva ou pelo ressentimento, perde totalmente o discernimento e o equilíbrio; fatalmente se esquecerá dos princípios e ensinamentos já aprendidos. Em conseqüência a memória inevitavelmente se obscurece, e a ação passará a ser caótica, geradora de Karma e cheia de vacilações.

A pessoa assim envolvida pela paixão ocupar-se-á de atividades de menor importância e individualistas, sem reconhecer a comunhão entre todos os seres. Atrasará, desse modo, sua libertação do processo do mundo (Samsara), ficando paralisado em seu processo evolutivo.

CAPÍTULO X - 19: “Não há nada sobre a terra ou entre os Devas no Céu, que esteja livre da influência das Trigunas engendradas pela Matéria (Prakriti).”

CAPÍTULO X - 1: “ Os aspirantes ocupados no processo do mundo (Samsara), que é dominado pelas três Gunas (Satwa, Rajas e Tamas), não descobrem como Eu as transcendo e permaneço imaculado.”

CAPÍTULO X - 21: “As pessoas de natureza Sátwica avançam até a espiritualidade superior; as de natureza Rajásica vacilam no meio do caminho, enquanto que as de natureza Tamásica, ocupadas em baixas atividades, atrasam-se no caminho do processo do mundo (Samsara).”

CAPÍTULO V - 7: “O aspirante, seguindo o Bhagavad-Shastra (Vidhi), exercitando de forma objetiva os Sentidos, isento de apego e aversão, sendo espiritualmente controlado, alcança a Bem-aventurança.”

Sobre as conseqüências trigúnicas na ação apaixonada, diz o Senhor, no Gita:

CAPÍTULO X - 3: “Ó tu, de grandes proezas!, as qualidades de Satwa, Rajas e Tamas, geradas pela Prakriti (Matéria - Gunamayi), impõem escravidão (pelo seu domínio) ao imortal Princípio de Vida que atua no corpo.”

CAPÍTULO XXIII - 4: “Aqueles, cujo discernimento átmico está obscurecido por desejos pessoais, adoram, de outra maneira, a muitos Devas (Aspectos Meus) seguindo disciplinas particulares, e, por isso, estão sujeitos à influência trigúnica dos próprios Devas.”

CAPÍTULO X - 2: “Minha Shakti (Maya, governando o processo do mundo Samsara) - Daivi, Esha e Gunamayi - é difícil de ser sobrepujada. Aqueles que se rendem a Mim (Ma Brahma Shakti ou Shakti de Síntese) transcendem a influência da tríplice Shakti.”

CAPÍTULO XVIII - 3: “Os Videntes declaram que o resultado da ação impessoal é Sátwico (abençoado) e iluminativo; o efeito da ação Rajásica é a dor (através das dualidades) e o da ação Tamásica é a ignorância do conhecimento átmico”.

CAPÍTULO X - 5: “Sabe tu, ó Bhárata!, que a qualidade Rajásica é inerente ao desejo nascido dela e associado com contínuos anelos. Ó Kaunteya! (Arjuna), essa qualidade impele o Princípio de vida à execução de atos que engendram apegos a seus frutos.

CAPÍTULO X - 6: “Ó Bhárata!, sabe tu que a qualidade Tamásica nasce da ignorância do discernimento átmico e desvia as pessoas, submetendo-as a estados de indiferença (irresponsabilidade), indolência (inércia) e sono excessivo.”

CAPÍTULO X - 7: “Ó Bhárata!, a qualidade Sátwica associa o Princípio de Vida com o prazer, a qualidade Rajásica com a execução de atos (e seus frutos), enquanto que a qualidade Tamásica obscurece o conhecimento, com a indiferença e a negligência”.

CAPÍTULO X - 12: “É declarado Tamásico o conhecimento que julga o processo do mundo (Samsara) sem objetivo algum, sem nenhuma importância, limitado, e como tal, atado a frivolidades como se essas fossem tudo;”

CAPÍTULO X - 16: “É Sátwico o aspirante (autor) que é livre de apegos, isento de egoísmo, dotado de sintético discernimento, de entusiasmo, e é, além disso, imperturbável diante do êxito ou do fracasso de seus empreendimentos”.

CAPÍTULO X - 17: “É Rajásico aquele que é apaixonado, desejoso do fruto de suas ações, cobiçoso, de natureza cruel, egoísta, e dominado pelas dualidades de alegria e de dor”.

CAPÍTULO X - 18: “É considerado Tamásico aquele que não é harmonizado pelo Yoga, que é materialista, obstinado, ganancioso, mentiroso, indolente, desanimado, e cultivador de prolongadas inimizades.”

CAPÍTULO XI - 7: “Esse entendimento, ó Partha!, é Sátwico quando reconhece a necessidade de executar a legítima e justa ação, como também a de não executar as ilegítimas e errôneas, discernindo entre a escravidão engendrada pelo medo, e a liberação obtida por meio da coragem (com relação a tal comissão e omissão respectivamente).”

CAPÍTULO XI - 8: “Ó Partha!, é Rajásico o entendimento que não reconhece corretamente o princípio de Dharma e Adharma (a Lei Eterna e sua violação), como também o que se deve e o que não se deve fazer.”

CAPÍTULO XI - 9: “Ó Partha!, é de entendimento Tamásico aquele que, privado de discernimento átmico, considera obstinadamente o Adharma com Dharma, e todas as aspirações (Purushartas: Dharma, Artha, Kâma, Mosksha e Prâpti) como vãs e ineficazes.”

CAPÍTULO XI - 12: “Ó Partha!, é Tamásico o Dhirti pelo qual o entendimento está continuamente influenciado pelo sono, medo, tristeza, desalento e pela tirânica natureza.”

CAPÍTULO XI - 14: “Ó tu, o primeiro dos Bháratas!, quando a qualidade Rajásica predomina, são geradas cobiça, objetividade, mera iniciativa para a ação, impaciência e ansiedade.”

CAPÍTULO XI - 15: “Ó descendente dos Kuru!, quando a qualidade Tamásica prevalece, gera a ignorância do discernimento átmico, preguiça, despreocupação e perversão.”

CAPÍTULO XI - 17: “Se no aspirante predomina a qualidade Rajásica, ver-se-á inclinado à ação com apego a seu fruto; similarmente, se nele prevalece a qualidade Tamas, cai na ignorância do discernimento átmico”.

CAPÍTULO XIX - 16: “Ó Arjuna!, é considerada Tyaga Sátwica a renúncia ao fruto da ação, quando ela é executada porque deve ser realizada; sem predileções pessoais.”

CAPÍTULO XXVI - 24: “A realização das ações feitas com átmico discernimento (Swadharma), transcendendo a influência trigúnica, supera as ações efetuadas sob a influência das Trigunas (Paradharma), ainda que estas sejam bem executadas. O aspirante que efetua ações com discernimento átmico, adaptadas à sua natureza prakrítica, não fica sujeito à escravidão da ação (enredado em limitações).”

ATENÇÃO!

CAPÍTULO XXI - 22: “Se estás obcecado pelo egoísmo e decides: “não lutarei,” as Trigunas nascidas da Prakriti (Matéria) impelir-te-ão a lutar (atuar) e assim tua resolução não se cumprirá.

 

4. PORTAIS DO APEGO: DESEJO, MEDO E IRA

As conseqüências das ações apaixonadas

A conseqüência direta de ações e reações apaixonadas é o apego. O apego aparece quando ouvimos o apelo de nossa vaidade pessoal, do nosso egoísmo, e começamos a desejar vantagens pessoais. Se tivermos presente que as ações legítimas são aquelas justas e necessárias, jamais aspiraremos, para satisfazer nosso próprio orgulho, ao resultado das mesmas.

Porém pelos laços de Gunamayi (a Shakti disponibilizada para o funcionamento do ser humano), nós temos tendência a desistir, ou a nos omitir diante das ações justas, porque elas são sempre difíceis de enfrentar. Fica sempre mais fácil omitir-se e não se posicionar claramente em certas ocasiões. Mas se nos colocarmos acima de nossos desejos pessoais e não permitirmos nenhum movimento interior em direção ao apego apaixonado às nossas vitórias e conquistas, desaparecerá todo o medo e não mais seremos afetados pelo êxito ou pelo fracasso. Extirpando o medo e o apego apaixonado, não haverá lugar para a ira, para a mágoa e para a cobiça ou inveja.

CAPÍTULO V - 5: “O aspirante, atraído pelo que seus Sentidos objetivos captam, apega-se a ditas percepções; do apego nascem as paixões, e as paixões dão origem à ira.”

CAPÍTULO V - 6: “Da ira surge a perda do discernimento; daí provém o obscurecimento da memória; por essa razão o intelecto debilita-se, e com tal debilitação Samya-Yoga não é alcançado.”

CAPÍTULO VIII - 11: “Eles, obcecados por insaciáveis e obscuras paixões, dominados pelo orgulho, pela vaidade e insolência, por egocêntricas intenções, sem discernimento espiritual, alimentando propósitos iníquos, ocupam-se em ações egoístas.”

CAPÍTULO VIII - 13: “Sujeitos à influência de prejudiciais desejos, dominados por densas paixões e pela ira, esforçam-se indevidamente para assegurar a si mesmos o máximo de bens, a fim de satisfazer a seus próprios sentidos.”

CAPÍTULO VIII - 19: “Dados ao egoísmo, confiados em seu cego poder, inclinados à arrogância, paixão e ira, sempre invejosos, aviltam-Me (ao Princípio de Vida) neles mesmos e nos demais.”

CAPÍTULO VIII - 21: “Caracterizados por natureza asúrica, e carecendo continuamente de discernimento espiritual, em lugar de reconhecer-Me como a Lei, eles trilham o caminho da dor e do sofrimento( ciclo dos nascimentos e mortes).”

CAPÍTULO VIII - 22: “Tríplice é o portal que conduz à obscuridade, turvando o discernimento átmico : paixão, ira e cobiça – por isso elas devem ser evitadas.”

 

CAPÍTULO II

COMO TRANSCENDER A PAIXÃO

Esse segundo recorte, de nosso estudo sobre a paixão, oferece a chave para desatar os nós causados pelo apaixonamento que nos aprisionam aos méritos e culpas de nossos atos neste Mundo. Já se selecionou os slokas que falam sobre a escravidão causada pelo apaixonamento nas ações do cotidiano; agora oferecemos reflexões sobre o segundo recorte de nossos estudos, a saber, a maneira como podemos transcender a paixão.

1. CONVERGÊNCIA MENTAL - Abhyasa Yoga

Inicialmente selecionamos alguns slokas que são fundamentais para se transcender um comportamento apaixonado, uma vez que eles oferecem pressupostos para exercer controle mental ou convergência mental sem distração, no Absoluto.

Com os slokas lidos na ordem abaixo, obtém-se a fórmula clara de como vencer o comportamento apaixonado, paulatinamente, em nossas atuações:

Disciplinar as sensações provocadas pelos sentidos objetivos;

Com isto estaremos estabilizando nossa mente emocional e retirando-a dos opostos, apego x aversão;

Finalmente, minimizar e ignorar qualquer distração mental, e focar a mente e todo o entendimento absortamente em Deus.

CAPÍTULO V - 22: “Ainda de um aspirante bem versado (Sthitabuddhi ou Artha, ou Brahmatma) os tumultuosos Sentidos desviam forçosamente a Mente, seja durante a prática meditativa, como também durante sua atuação no processo do mundo (Samsara);”

CAPÍTULO V - 17: “Afasta a distraída e vacilante Mente Emocional (Manas) de qualquer coisa que a haja atraído e conduze-a novamente ao Átma.”

CAPÍTULO V - 23: “Disciplinando os Sentidos e a Mente, todo aspirante deve permanecer devotamente absorto em Mim (Atma); assim, aquele que tem controlado os Sentidos, (Gñanendriyas), chegará a estabilizar seu entendimento;”

CAPÍTULO V - 7: “O aspirante, seguindo o Bhagavad Shastra, pelo controle dos Sentidos objetivos de sensação, isento de apego e aversão, sendo espiritualmente controlado, alcança a Bem-aventurança.”

CAPÍTULO V - 8: “Nesse estado bendito cessam todas as aflições, e sem demora se torna introspectiva a inteligência ou conhecimento (do aspirante bem-aventurado) levando-o ao Yoga.”

CAPÍTULO VI - 23: “Ó Bhárata! (Arjuna), nem todos os seres reconhecem-Me como a Causa de Tudo, por isso sua atividade, tanto objetiva (Pravritti) como subjetiva (Nivritti), estão obscurecidas pelas dualidades agradáveis e desagradáveis, ó Parantapa! (Arjuna).”

CAPÍTULO VI - 24: “Aqueles cujos méritos e deméritos são transmutados pelo Yoga, atuando desinteressadamente, chegam a conhecer-Me e realizar-Me como a Causa de Tudo, posto que não estão obscurecidos pelo vaivém das dualidades, e assim estão firmemente estabelecidos no Yoga.”

CAPÍTULO VI - 25: “Quando o Vidente Me vê como a Causa de Tudo, percebe que só as gunas (Qualidades da Matéria - Prakriti) são a causa próxima de toda ação, e reconhecendo-Me como Aquele que está mais além das gunas, entende Minha Transcendência. (Kaivalya ou Atma Bhava).”

CAPÍTULO V - 26: “Conhecendo assim o Princípio de Vida (Átma, no Plano Avyakta) como transcendendo Buddhi, (Intelecto), Manas (Mente) e Indriya (Sentido Cognoscitivo), disciplinando a Mente por meio de Buddhi e Dhriti, ó tu, de grandes proezas!, vence o adversário que se apresenta como perversa paixão, difícil de subjugar-se.”

CAPÍTULO VIII - 25: “Portanto o Bhagavad-Shastra é a autoridade que te indica quais as ações deves realizar (Pravritti) e quais não deves praticar (Nivritti). Conhecendo a palavra revelada do Shastra, estás apto para empenhar-te no processo do mundo (Samsara).”

Atenção!

A mente emocional pode ser nossa amiga ou nossa inimiga. Nossa luta para conseguir o controle sobre ela deve ser cautelosa, porém firme e decisiva.

Reflitam sobre o seguinte:

Primeiro passo: dirigir espiritualmente as sensações provocadas pelos nossos sentidos, ou seja, praticar constantemente a convergência mental (Abhyasa Yoga) em cada ato, escolha ou decisão e cultivar a impessoalidade em nossas relações com todas as pessoas, incluindo parentes, vizinhos, amigos, conhecidos, colegas de trabalho e todos os outros grupos sociais.

Segundo passo: refere-se a somente executar as ações que forem necessárias e legítimas; para isso é fundamental fazer o que deve ser feito sem se omitir e sem desistir, diante do que for verdadeiramente justo, e alem disso, sem se apegar ao resultado das intervenções que forem justas e necessárias, sem se alterar com nenhuma conseqüência desta postura de enfrentamento na vida (nem com prêmios e nem com culpas e castigos, mantendo-se consciente de que o mérito não é nosso e sim d’Aquele em que absorvemos totalmente todo o nosso ser).

Esses dois passos levam a um estado de total desapaixonamento, tanto nas relações sociais como nas relações pessoais. Recairemos na escravidão das gunas se permitirmos que a mente se coloque na posição de nossa inimiga. É preciso ter ciência de que, mesmo diante das mais nobres aspirações, devemos primar por ações sem nenhum envolvimento emocional, sem usufruir de nenhuma satisfação personalizada.

É possível que, trilhando as recomendações aqui pontuadas, surja a necessidade de maior dedicação à prática meditativa, pois todo o ser se pacificará; a arrogância irá, aos poucos, dando lugar a um profundo silêncio interior; a necessidade e o apego a coisas meramente materiais irão desvanecendo em seu horizonte individual.

Isso é o Karma-Yoga: a transcendência paulatina e conclusiva sobre o resultado de todas as nossas ações.

CAPÍTULO XIV - 3: “Ó tu, de justo poder!, a Mente é inconstante e, sem dúvida, difícil de controlar; não obstante ela pode ser dominada pela prática do Abhyasa Yoga (convergência), ó Kaunteya!, e através de Vairagya (desapaixonamento nas relações sociais e pessoais, como em todas as ações).”

CAPÍTULO XX - 22: “Para aquele cujas paixões estão dominadas pelo discernimento átimico, a Mente age como amiga; se a Anatma (a Prakriti, constituída pelo Intelecto, Mente Emocional e Sentidos) é inimiga do progresso espiritual, o aspirante deve tratá-la (a Anatma) como se fosse sua inimiga (lutando cautelosamente com o propósito de dominá-la como tal).”

CAPÍTULO XIX - 25: “Ó tu, o melhor dos Bháratas!, como um verdadeiro primeiro passo, dirigindo espiritualmente os Sentidos (Gñananendriyas ou Sentidos Cognoscitivos), vence (transcende) o apaixonamento que obstrui todo Entendimento e Conhecimento.”

CAPÍTULO XXII - 20: “Teu dever consiste em executar somente as ações legítimas, sem jamais considerar seus frutos; não te apegues nem sequer ao fruto da ação legítima, nem te deixes dominar pela tendência a omitir ou desistir da ação justa.”

CAPÍTULO XI - 3: “Morando em paragens solitárias, mantendo-se com apropriado regime alimentar, controlando o modo de falar, isto é, a Linguagem (Buddhi), os Sentidos e a Mente (Emocional), sempre desapaixonado, dedica-se à prática meditativa;”

CAPÍTULO XI - 4: “Sem egoísmo, não confiando na mera força física, despojando-se da arrogância, da paixão, da ira, sem possessões materiais, generoso e tranquilo, tal aspirante é digno de alcançar a Beatitude Brâhmica.”

CAPÍTULO XIV - 5: “Que o Yogue (Aspirante que pratica o Yoga) permaneça em um lugar solitário, com a Mente sempre dirigida ao Átma, só, absorto no Uno (Brahman), com Mente disciplinada, desapaixonado e sem apego às possessões.”

CAPÍTULO XVIII - 9: “Ó Dhananjaya!, renunciando a todo apego, executa todos os atos (necessários ou legítimos) com sintético entendimento, sem ser afetado nem pelo êxito, nem pelo fracasso dos atos. Tal transcendência sobre o fruto da ação constitui o Karma-Yoga.”

 

2. DESAPEGO EM TODAS AS AÇÕES: Êxito x Fracasso

Nos próximos slokas temos uma advertência: aquele que está ligado ao fruto da ação através do desejo, fica atado por ele!
Todos os ensinamentos para vencer as paixões egocêntricas que foram apresentados até aqui, são concluídos nos slokas a seguir:

CAPÍTULO XVII - 10: “Os Yogues (Aspirantes na senda do Yoga) executam as ações, de forma física ou mentalmente, por meio dos Sentidos, com discernimento, purificando sua natureza (Manas, Mente - Emocional) através da renúncia ao apego ao fruto da ação.”

CAPÍTULO XIX - 13: “Estes atos necessitam ser executados de acordo com o Bhagavad Shastra, isto é, desapaixonadamente e sem aspirar a seu fruto. Ó Partha!, esta é Minha suprema e absoluta Lei.”

CAPÍTULO XVII - 11: “O Yukta, renunciando ao fruto da ação, alcança a paz através da busca sintética (ou yóguica). Aquele que não é Yukta, estando ligado ao fruto da ação através do desejo, fica atado por ele.”

CAPÍTULO XVII - 23: “O Sábio (Jignâsu), buscando a Liberação, livre de desejos, medo e ira, com os Sentidos, a Mente e a Inteligência disciplinados sem dúvida A alcança.”

CAPÍTULO XV - 22: “Assim, estando absorto em Mim, tu, por meio de Minha Graça, transcenderás todos os obstáculos (na Senda do Yoga). Porém se não concordas com isto, por motivos pessoais (egoísmo), fracassarás no Yoga.”

CAPÍTULO XV - 23: “Consagrando a Mim o fruto de todas as tuas ações, e com discernimento átmico, tornando-te desapaixonado e impessoal, luta! (Realiza toda ação), livre de toda confusão.”

CAPÍTULO XV - 2: “Logrando a Suprema Sabedoria, eles se aproximam de Meu Dharma (Bhagavad Dharma ou Suprema Lei); não estando impedidos pela escravidão dos apegos, nem pelas atividades objetivas ou subjetivas do processo do mundo (Samsara).”

CAPÍTULO VI - 22: “As Gunas da Matéria (Prakriti) são a causa próxima de toda ação, enquanto que o Princípio de Vida (Purusha) promove as alegrias e tristezas.”

CAPÍTULO XIX - 7: “Aquilo que os Videntes declaram ser Sannyasa, (Karma-Sannyasa), sabe tu, ó Pândava!, que é Yoga (Karma-Yoga); o aspirante que não houver abandonado a ideação pessoal e o egocentrismo, jamais poderá converter-se em um Karma-Yogue.”

Chamamos a atenção do estudante para a necessidade de ser intenso na execução das ações desapaixonadas e desapegadas. O fato de estar executando ações inegoístas e dedicadas a Deus não significa que elas não tenham calor e vibração. Alguém que observe, nem deverá perceber a diferença entre os que executam ações com o vício da paixão e da vaidade pessoal, e os que executam os mesmos atos com discernimento espiritual e desapego.

A pessoa que já alcançou tal clareza, no funcionamento do mundo, deve programar todos os seus atos para favorecer a elevação das pessoas ainda atadas pelos laços dos funcionamentos apaixonados e apegados. Deve fazer isso de forma discreta, sem perturbar o entendimento dos demais, apenas exercendo sobre todos a influência purificadora do amor a todos os seres.

CAPÍTULO XXIV - 8: “Ó Bharata!, o Gñana-Yogue de iluminado entendimento, deve, tendo em vista o bem-estar do mundo, executar as ações desapaixonadamente, porém tão intensamente quanto aquele que, sem discernimento espiritual, executam atos intensamente apegados a seus frutos”

CAPÍTULO XXIV - 9: “A pessoa que tem discernimento sintético, não deve perturbar necessariamente, o entendimento daqueles que não o tem, e que por isso estão apegados ao fruto da ação; porém deve, como um Yukta, transcendendo o fruto da ação, regular todos os seus atos visando à elevação deles.”

CAPÍTULO XII - 10: “Sou a coragem no poderoso que está livre de paixões e apegos, ó tu, o primeiro dos Bháratas! Em todos os seres Eu sou o desejo, que nunca é incompatível com o DHARMA”

CAPÍTULO XXIV - 19: “ASSIM COMO O FOGO DO SACRIFÍCIO REDUZ A CINZAS OS RAMOS OFERECIDOS, O FOGO DO CONHECIMENTO ÁTMICO CONSOME A IMPUREZA DO APEGO (que causa a escravidão) EM TODA AÇÃO”.

 

3. DISCERNIMENTO NA EXECUÇÃO OU NÃO EXECUÇÃO DA AÇÃO

Falaremos agora do terceiro ponto fundamental para transcender um comportamento apaixonado no nosso dia a dia.

Mesmo os sábios ficam confusos ao elegerem, para si mesmos, o que executar ou o que deixar de executar, diante das escolhas que a vida nos impõe. Porém é inequívoco que, se nos apegarmos a qualquer trabalho que executemos, ou aos resultados alcançados por qualquer atuação nossa, ficaremos atados pelas malhas da paixão.

Se praticarmos as nossas escolhas na vida, e a execução ou não, de nossos atos motivados por desejos pessoais, iludindo-nos de que nós somos os criadores de cada realização nossa, estaremos negligenciando com o principal ensinamento dos Shastras: Abandone INTEIRAMENTE todos os desejos nascidos de suas ideações pessoais e exercite-se no conhecimento centrado na Síntese, estabelecendo assim, durante todo o tempo, initerruptamente, sua Mente-Emoção focada do Princípio de Vida.

Eis aí a chave mestra para o domínio de nossas tolas paixões e apegos: deleitar-se apenas em repousar no Principio de Vida que é em cada um de nós! “Não sou eu quem vive! É Cristo que vive em Mim!”

CAPÍTULO XXIV - 2: “O que é Ação (Karma), e o que é Não-Ação (Akarma)? Mesmo os Sábios estão confusos sobre isso; portanto, Eu te revelarei o significado de Karma, e por meio desse conhecimento poderás ser liberado de sua escravidão.”

CAPÍTULO XXIV - 4: “O aspirante, desligado do fruto da ação, deleitando-se no Princípio de Vida, livre da trigúnica Prakriti, ainda quando envolvido no trabalho, ao executá-lo, decerto, não fica atado por ele; isto é Naishkarmya-Siddhi.”

CAPÍTULO X - 22: “As pessoas cujo discernimento átmico foi obscurecido pelas três qualidades da Matéria (Prakriti), apegam-se ao fruto da ação no processo do mundo (Samsara). Gnana (Conhecimento), Iccha (Desejo) e Kriya (Atividade). Os Yogues, de perfeito conhecimento, não devem perturbar nem forçar tais pessoas de limitado e embotado entendimento.”

CAPÍTULO XX - 21: “O aspirante deve enaltecer-se por meio de uma Mente desapaixonada, sem deixar-se cair em desalentos mentais; em verdade a Mente é sua própria amiga, porém ela pode ser igualmente sua inimiga.”

Desalentos e euforias mentais são armadilhas da mente quando permitimos que ela se torne nossa inimiga.

É preciso transformar a mente em nossa amiga, utilizando a chave ensinada no capítulo anterior.

Dedique atenção para o importante ensinamento que vem a seguir:

CAPÍTULO VIII - 22: “Tríplice é o portal que conduz à obscuridade, turvando o discernimento átmico: paixão, ira e cobiça, por isso elas devem ser evitadas.”

CAPÍTULO VIII - 23: “Ó Kanteya!, a pessoa liberta dessa tríplice entrada, que leva ao infortúnio, esforça-se para chegar à excelência espiritual, e posteriormente alcança a Suprema Bem-Aventurança (Brahma-Prâpti).”

CAPÍTULO VIII - 24: “O aspirante que pratica ações motivados por desejos pessoais, negligenciando os mandamentos do Shastra (Bhagavad ou Suddha-Shastra), não alcança a Visão da Beatitude Cósmica (Siddhi ou Vibhuti-Yoga), nem Sukha (Bênção do Conhecimento), nem a aproximação a Brahman. (Brahma-Samipya).”

CAPÍTULO VIII - 25: “Portanto o Bhagavad-Shastra é a autoridade que te indica quais as ações deves realizar (Pravritti) e quais não deves praticar (Nivritti). Conhecendo a palavra revelada do Shastra, estás apto para empenhar-te no processo do mundo (Samsara).”

Atenção, amigo estudante. Aqui o Gita repete a mesma “chave”, de forma clara e inequívoca.

CAPÍTULO XXII - 7: “Abandonando inteiramente todo desejo surgido de particulares ideações, e retirando (convergindo) os Sentidos (Gñananendriyas ou sentidos cognoscitivos), por meio da Mente, de tudo o que o rodeia,”

CAPÍTULO XXII - 8: “O aspirante deve tranqüilizar gradativamente sua Mente, por meio do conhecimento exercitado na Síntese (Yoga), estabelecendo a Mente-Emocional no Princípio de Vida, no Qual unicamente deve meditar.”

CAPÍTULO XVIII - 10: “Ó Dhananjaya!, toda ação, que não está associada com o sintético entendimento (Buddhi), é ineficiente (aprisiona); busca tu a guia por meio de Buddhi; aqueles que buscam o fruto das ações para eles mesmos são egoístas (Kripanaha).”

 

4. IMPORTÂNCIA DA MODERAÇÃO NAS DISCIPLINAS

Muitas vezes nos iludimos, achando que a contenção rígida dos nossos gostos pessoais, na forma de prática auto-punitiva, que atormenta a constituição elemental de nosso corpo, é necessária para a nossa libertação. Esse comportamento, todavia, é contrário ao que está ensinado no GITA e em todos os ensinamentos do Suddha Dharma Mandalam. Também é totalmente contrário o exagero e dependência dos passionais gostos e desgostos das pessoas de natureza orgulhosa e egoísta, que atendem desordenadamente suas paixões, por pessoas, objetos, poder, dinheiro etc.

CAPÍTULO II - 1: “Ó Bharata (Dhritarashtra)! Hrishkesa (o Senhor), sorridente, falou as seguintes palavras a Arjuna que se mostrava perturbado e confuso entre os dois exércitos.”

CAPÍTULO II - 2: “Tu te afliges por aqueles que não o merecem; não obstantes pronuncias palavras de sabedoria; os sábios não se lamentam pelos ignorantes, nem pelos doutos se regozijam.”

CAPÍTULO II - 3: “Ó Arjuna!, estás dominado pela confusão nascida da falta de equanimidade. Este desequilíbrio é contrário ao espiritual, frustrando a elevada finalidade e tendendo a obstaculizar a Beatitude.”

CAPÍTULO II - 4: “Ó Partha! (Arjuna), não cedas à inação; isto não é digno de ti, ó tu Conquistador! Rechaça esse deprimente desalento mental e empreende a elevada ação!”

CAPÍTULO V - 1: “Oh Madhusudana! (Krishna), devido à minha confusão, não entendo a permanente natureza da disciplina do Samya-Yoga (percepção transcendental) que Tu me revelaste.”

CAPÍTULO V - 4: “É considerado por Mim, como preceito, que o Samya-Yoga (Vigilância Transcendental) não pode ser alcançado por aqueles de Sentidos e Mente indisciplinados; porém, isto é alcançável pelo esforço disciplinado, por meio de Transcendente Ideação - Suddha Dharma. (Upaya).”

CAPÍTULO VII - 12: “Aqui, sua expressão samsárica (referida acima) não é conhecida como tal, nem em seu princípio (Srishti) nem em seu meio (Sthiti), nem em seu fim (Laya). Só pode conhecer este eterno processo do mundo (Samsara) o aspirante capaz de profundo entendimento, isento de perspectiva egoísta, mediante completo desapego (Sannyasa e Tyaga).”

CAPÍTULO X - 16: “É Sátwico o aspirante (autor) que é livre de apegos, isento de egoísmo, dotado de sintético discernimento, de entusiasmo, e é, além disso, imperturbável diante do êxito ou do fracasso de seus empreendimentos.”

CAPÍTULO IX - 5: “As pessoas de natureza orgulhosa e egoística, que são impelidas por forte e passionais gostos e desgostos, bem como quem pratica severas austeridades, contrárias aos mandamentos do Shastra,”

CAPÍTULO IX - 6: “Destituídas de discernimento espiritual, atormentam a constituição elemental do corpo, como também a Mim (Atma) que moro dentro dele; por isso, considero-as de convicções asúricas.”

CAPÍTULO XIV - 10: “Ó Arjuna!, A prática do Yoga por certo não é para o glutão ou para o que jejua em excesso; nem para o que dorme em demasia, nem para o que vela com exagero.”

CAPÍTULO XVI - 10: “Aqueles que conhecem o Átma declaram-NO Inviolável. DELE o desapaixonado Yati (Aspirante Avançado) busca aproximar-se, e nessa busca vive em castidade. Também esse estado Eu te explicarei resumidamente.”

CAPÍTULO XVIII - 2: “Transcendendo a alegria e o sofrimento, o lucro e a perda, a vitória e a derrota, prepara-te para a luta (para a ação no processo do mundo - Samsara); assim não serás escravizado nem pelo mal, nem pelo bem.”

CAPÍTULO XIX - 3: “Aquele a quem nada aborrece nem nada deseja, que possui discernimento átmico, é conhecido como um Sannyasi (Renuciante, aquele que já está livre de apegos); transcendendo as dualidade, ó tu, de grandes proezas! Ele é felizmente liberado da escravidão das ações que conduzem a novos nascimentos.

CAPÍTULO XXII - 4: “Estas pessoas, sempre desejosas do fruto da ação para si mesmas, anelam seguir a senda do prazer, a qual conduz ao Céu Mental (Swarga), através de múltiplos sacramentos e rituais particulares; consequentemente são mais dominadas pela paixão.”

 

CAPÍTULO III

O HOMEM LIBERTO DAS PAIXÕES

Iniciamos nossa viagem interior, propondo ao leitor o estudo da primeira chave do Gita - como lidar com o apaixonamento - referenciando-nos em três enfoques distintos. Chegamos agora ao terceiro recorte, que discorre sobre o homem, finalmente, liberto das paixões egocêntricas. Já percorremos a descrição do que é a paixão e dos portais que nos aprisionam a um funcionamento apaixonado no mundo. Já aprendemos as pistas para alcançarmos o vencimento desse tipo de funcionamento equivocado e aprisionante em nosso dia a dia. Agora descrevemos o Homem liberto de paixões, a característica desse tipo de homem, a relação entre desapaixonamento e impessoalidade, e, finalmente o resultado magnífico do domínio das paixões. Caminhemos resolutos para a libertação!

1. CARACTERÍSTICAS DE QUEM VENCEU A PAIXÃO

Relacionamos neste capítulo pontos do Gita que caracterizam aqueles entre os homens, que venceram a paixão em seu funcionamento no mundo das relações.

Quando vencemos o apaixonamento por nossas metas individuais, ou pelo apego a elas, e extraímos qualquer traço de vaidade personalizada em sua execução, passamos a aspirar unicamente ao bem estar do mundo e de todos os seres. Mesmo que nossa vitória seja por vencermos um único gesto de paixão por alguma causa ou por alguém, já seremos capazes de manifestar por essa causa ou pessoa, sentimentos amistosos, compassivos e desprendidos; estaremos assim sempre predispostos ao perdão, com grande discernimento espiritual.

Quando uma pessoa alcança um estado livre da paixão de qualquer espécie, fica totalmente absorta em Deus, nada abala seu equilíbrio e doçura: nenhum apego, nem medo, nem raiva. Ela assume uma postura retilínea de protetor de todos os Dharmas, individuais e coletivos. Passa a ser impossível a ela causar dano a qualquer criatura; seu grau de tolerância é inigualável para com aqueles que ainda estão atados, através da paixão, a uma vida caótica e irresponsável. Abaixo apresentamos uma seqüência ordenada de reflexões sobre esse tema tão intrigante: o vencimento do apaixonamento em nossas vidas.

CAPÍTULO IV - 13: “Aquele cujo esforço é isento de propósito passional, e cujas amarras das ações são consumidas pelo fogo do Conhecimento, os Videntes declaram ser um “Pandita”.

CAPÍTULO IV - 14: “Aquele que não se regozija com os estímulos agradáveis , nem se entristece com os desagradáveis, com firme discernimento espiritual, sendo um conhecedor de Brahman, habita em Brahman.”

CAPÍTULO IV - 16: “Com os Sentidos disciplinados, reconhecendo Sua transcendência, e desejosos do bem-estar do mundo (Loka-kainkarya), chegam a Mim.”

CAPÍTULO XXIII - 12: “Sem ódio, amistoso com todos os seres, compassivo, desprendido (sem apegos), livre de egoísmo, transcendendo o prazer e a dor (e dualidades semelhantes), de natureza sempre disposta ao perdão.”

CAPÍTULO XXIII - 13: “Este devoto Yogue, que sempre se regozija no Atma, com Mente disciplinada e firmeza de convicção, havendo dedicado a Mim seu Manas (Mente) e seu Buddhi (Intelecto), é amado por Mim.”

CAPÍTULO XXIII - 14: “Aquele que não causa sofrimento a outros seres, como também aquele que não é perturbado pela dor do mundo, e está livre da influência da alegria, da ira e do medo, é amado por Mim.”

CAPÍTULO XXIII - 15: “Aquele que não se alegra, não odeia, não se abate, que nada deseja, dedicando a Mim o fruto de toda ação agradável ou desagradável, tal devoto é amado por Mim.”

CAPÍTULO VII - 4: “Dotado com o funcionamento de todos os sentidos, acha-Se, contudo, livre da escravidão que eles impõem. Desapegado, Protetor de todos os Dharmas, atua sempre sem ser afetado pelas três Gunas (Satwa, Rajas e Tamas), residindo na Daivi-Prakriti.”

CAPÍTULO III - 19: “Isentos de apego, medo e cólera, sempre absortos em Mim, dedicando-se a Mim, purificados através de austera sabedoria, muitos aspirantes tem se aproximado de Meu Ser”

CAPÍTULO III - 25: “Ó Arjuna!, aquele que assim conhece Minha Divina manifestação e funcionamento nos Tatwas, dedicando tudo a Mim, não está mais sujeito ao renascimento, e aproxima-se de Mim.”

CAPÍTULO IV - 21: “Ó Arjuna!, aquele que reconhece que o prazer e a dor (e todas as dualidades) são da mesma natureza de Brahman (Sama) representado no Atma, é considerado um supremo Yogue.”

Neste ponto a pessoa que conseguiu livrar-se das atrações causadas pela satisfação indiscriminada de nossos sentidos, torna-se realmente desapegado, simples, equilibrado. Mesmo com sua esposa ou esposo, seus filhos, seus parentes, colegas, vizinhos e amigos, suas reações são doces e impessoais. Diante de qualquer evento em seu cotidiano, inesperado ou não, essa pessoa permanece impassível, sem se alterar, sem perder o equilíbrio.

Aquele que alcançou este ponto dedica a Deus tudo o que faz e tudo o que lhe acontece, por isso nem a censura nem o elogio, nem o desprezo nem a camaradagem, lhe afetam. Torna-se imparcial, equânime e irradia Amor a todos os seres, pois venceu o funcionamento apaixonado e nada mais lhe transtorna.

CAPÍTULO IV - 22: “Aquele que é um Yukta, isento de apegos , cuja consciência está bem estabelecida no conhecimento espiritual, e cujas ações são executadas com inteira dedicação, suas ações são inteiramente livres das qualidades que o atam.”

CAPÍTULO V - 9: “Nesse estado, o aspirante, com amplitude de visão e discernimento, isento de orgulho, sendo-lhe impossível causar dano, tolerante, reto, dedicado ao Mestre, puro, firme, mentalmente disciplinado;”

CAPÍTULO V - 10: “Impassível com relação aos contatos sensoriais; sem egoísmo; reconhecendo os males e aflições provenientes do nascimento, das enfermidades, da velhice e da morte;”

CAPÍTULO V - 11: “Desapegado, conduzindo-se impessoalmente com os filhos, com a esposa e o lar; sem perder o equilíbrio da Mente (Manas) nos acontecimentos tanto agradáveis como desagradáveis;”

CAPÍTULO VIII - 24: “O aspirante que pratica ações motivadas por desejos pessoais, negligenciando os mandamentos do Shastra (Bhagavad ou Suddha Shastra), não alcança a visão da Beatitude Cósmica (Siddhi ou Vibhuti Yoga), nem Sukha (Bênção do Conhecimento), nem a aproximação a Brahman (Brahma Samipya).”

CAPÍTULO XIII - 22: “Aquele que permanece tranqüilo, sem ser perturbado pelas tríplices qualidades; que está firmemente convencido de que estas qualidades atuam por si sós,”

CAPÍTULO XIII - 23: “Sabendo que o prazer e a dor (de Manas Tatwakuta) são da natureza de Brahman, centrado no Átma, reconhecendo na terra, na pedra ou no outro a Essência Brâhmica Única, vendo-A igualmente no amigo como no inimigo, sendo de iluminado entendimento, compreendendo que a censura ou o elogio não atingem o Atma;”

CAPÍTULO XIII - 24: “Aquele a quem não afeta a estima ou o desprezo, transcendendo as noções temporais de amizade e inimizade, dedicando todas as ações a Mim, transcende a influências das tríplices qualidades (Trigunas ou qualidades da Matéria Satwa, Rajas e Tamas).”

 

2. DESAPAIXONAMENTO E IMPESSOALIDADE

CAPÍTULO XIV - 12: “É considerado Yukta o aspirante que, com a Mente bem disciplinada, centrada no Átma, está despegado de toda a paixão.”

CAPÍTULO XV - 10: “O Paramatma, o Indestrutível, estando mais além do Adi(Plano da Mahat-Prakriti), e portanto mais além das Trigunas (isto é, Nirguna ou sem forma), ainda que residindo no corpo (loka), ó Kaunteya!, não atua nem é atado por nada.”

CAPÍTULO XXI - 7: “Desejo e aversão, prazer e dor (Grupo Manas), contatos dos Sentidos (Grupo dos Sentidos), Inteligência ou Consciência (Grupo Mahat) e Faculdade Sintetizadora (Yóguica) - tudo isto, coletiva e separadamente, constitui o Kshetra (unidade corporal ou o Cosmo).”

CAPÍTULO XVII -21: “Os Yatis (Artharthi ou discípulos avançados, sábios e puros), que estão livres da ira e das paixões, com a Mente bem dirigida, e reconhecendo o Princípio de Vida, muito breve, e facilmente obtêm o Êxtase Brâhmico.”

CAPÍTULO XXI - 24: “Aqueles que, com o olhar do Conhecimento, descobrem a mútua relação entre o Kshetra (Prakriti ou Matéria) e o Kshetragna( Atma ou Princípio de Vida), como também o modo de libertar-se da escravidão da Matéria, alcançam a Suprema Meta.”

CAPÍTULO XVII - 12: “O aspirante, obtendo assim completa vitória sobre os Sentidos (Vasi) e renunciando ao fruto de toda ação, reside alegremente no corpo de nove portas (o corpo físico), assim ele atua como se não atuasse. Mesmo executando qualquer ação, realiza-a sem nenhuma motivação pessoal (ação impessoal)”.

CAPÍTULO XVIII - 11: “ Os aspirantes de Mente controlada e associada com Buddhi (Intelecto Superior ou Intuição), renunciando ao fruto da ação, são liberados da escravidão do nascimento e da morte (Pravritti e Nivritti); assim eles alcançam o estado de Bem-aventurança.”

CAPÍTULO XVIII - 17: “Portanto, ó tu, de grandes façanhas!, o entendimento daquele cujos Sentidos atuam nos objetos de sensação inteiramente sem apego, é sereno.”

CAPÍTULO XVIII - 22: “Porém, ó Arjuna!,aquele que, com os Sentidos (Gñanendriyas ou Sentidos Cognoscitivos) controlados pela Mente, sendo desapegado do fruto da ação, ocupa a atividade dos Sentidos no Karma-Yoga ( execução da ação com entendimento sintético, isto é, átmico discernimento), é excelente na execução das ações.”

CAPÍTULO XIX - 6: “O aspirante que executa a ação necessária (Baseado no Bhagavad-Shastra), e não está apegado a seu fruto é um Karma Sannyasi e um Karma Yogue, e não aquele que meramente transcendeu o tríplice Fogo (purificação das atividades do Intelecto, da Mente-Emocional e dos Sentidos), nem tampouco aquele que desiste da ação física.”

CAPÍTULO XIX - 8: “É conhecido como perfeito no Karma-Yoga (Yogarudha) aquele que não está apegado à ação que engendra prazeres nos Sentidos, e que, além disso, renunciou a toda ideação passional.”

CAPÍTULO XX - 9: “Aquele que assim reconhece o Princípio de Vida (Atma) e a Matéria (Prakriti) com suas qualidades, ainda que atuando de várias maneiras, não está sujeito à escravidão imposta pela Matéria.”

Para finalizar esse recorte, selecionamos cinco versículos do Capítulo XXIII, que afirmam: quem venceu a paixão, tendo alcançado a impessoalidade, fica além dos pares de opostos. Quando a pessoa coloca-se além de seus meros interesses pessoais e de sua vaidade, ao executar sua missão, seja ela qual for, o faz totalmente livre, desapegado e pelo bem de todos os seres; sem prejudicar a ninguém. Este é o ser humano que precisa surgir neste novo século no Planeta.

CAPÍTULO XXIII - 16: “Transcendendo a amizade e a inimizade, a honra e a desonra (com equânime percepção cognoscitiva), o calor e o frio (com equânime percepção sensitiva), o prazer e a dor (com equânime percepção da Mente Emocional), e isento de apego a tudo isto;”

CAPÍTULO XXIII - 17: “Tal devoto, que está além do alcance do insulto e da lisonja, comedido nas palavras, sereno ante qualquer classe de acontecimento, é amado por Mim.”

CAPÍTULO XXIII - 19: “Portanto, pratica desapegadamente todos os atos necessários; a pessoa que os cumpre de forma desapaixonada alcança a Suprema Meta.”

CAPÍTULO XXIII - 20: “Para ela não há nenhum interesse pessoal ao praticar os atos justos, nem ao não praticar os maus; tampouco há nela, verdadeiramente, nenhuma expectativa pessoal, de qualquer classe, em sua atuação no processo do mundo (Samsara).”

CAPÍTULO XVIII - 23: “A pessoa que, livre de toda paixão, atua desapegadamente, e, estando livre de posses materiais, sendo impessoal, alcança a paz.”

 

3. RESULTADO DO DOMÍNIO DA PAIXÃO

Viver nossas ações no funcionamento do cotidiano com paixão pessoal, mantendo a ilusão de que somos os proprietários de nossos projetos, ideações e intelecções, como se cada projeto nosso na vida fosse fruto de nossa própria personalidade em evolução, leva-nos a esquecer que tudo o que existe, existiu e está por existir é OBRA DE DEUS. Tal comportamento apaixonado, que tem seu campo de operação nos sentidos e na mente emocional, consome nosso entendimento porque obscurece nosso discernimento átmico. É exatamente a este apego causado pela ignorância do Supremo Dharma, o que chamamos de ação apaixonada ou apego pessoal ao fruto de nossas ações.

A paixão pessoal em nosso funcionamento no mundo das relações interpessoais, além de consumir nosso entendimento, produz sempre um resultado específico: a ira, emanada da qualidade de Rajas.

O conhecimento superior correspondente ao Supremo Dharma é, todavia, difícil de alcançar, se permitirmos que as experiências do dia a dia, resultante de nossos contatos com os objetos dos sentidos, confundam a nossa mente-emocional.

Segundo o Bhagavad Shastra, o aspirante espiritualmente controlado comanda seus sentidos objetivos e suas sensações pessoais, mantendo sua personalidade cada dia menos possessiva e dominadora, chegando a alcançar um estado em que esteja isento de apego e de aversão, no qual não há julgamento de valores, nem há o “meu e o seu”.

Neste estado, em que a vida impessoal se sobrepõe a nossas ilusórias paixões pessoais, por realizações que, de fato, não nos pertencem, abstemo-nos, espontaneamente, de registros possessivos e apegados às nossas obras no mundo. Vejamos no Gita, o que o Senhor nos ensina sobre isto.

CAPÍTULO IV - 26: “Aquele que é imune aos resultados dos contatos externos, e busca a alegria interior, consagrando-se ao Brahma-Yoga, alcança a eterna Bem-aventurança.”

CAPÍTULO XXVI - 3: “Aquele que está livre de desejos, que é impessoal, versado, que não é afetado por nada, que transcendeu a dor e o prazer, e cujas ações são dedicados ao Princípio de Vida, sendo Meu devoto, é muito amado por Mim.”

CAPÍTULO XXVI - 4: “O aspirante que busca a felicidade em Brahma Samipya (aproximação a Brahma ou Yadruccha), transcendendo os pares de opostos, isento de inveja, que não é afetado nem pelo êxito nem pelo fracasso na execução das ações, não é atado por elas, nem mesmo quando as está executando.”

CAPÍTULO IV - 12: “O aspirante, com constante discernimento, com Mente (Manas) disciplinada e desapaixonada, através da renúncia ao fruto da ação necessária, acerca-se ao supremo logro da Naishkarmya (ação necessária, executada sem apego ao fruto e espiritualmente dedicada).”

CAPÍTULO V - 18: “Oh Partha!, é declarado Sthitapragña (Mahatma ou Gñani) aquele que superou todas as paixões da Mente (mente emocional - Manas), e assim permanece extasiado em Átmica Beatitude.”

CAPÍTULO V - 19: “Sthitadhi (Samatma ou Muni) é aquele cuja Mente não é angustiada por aflições, mantendo-se desapaixonado, desapegado de atrações prazenteiras, isento de desejos, de medo, de cólera;”

CAPÍTULO V - 20: “Seu entendimento (Pragña) é estabilizado, não se alegra pelos eventos auspiciosos, nem se entristece com os acontecimentos adversos.”

CAPÍTULO V - 21: “Seu entendimento (Pragña) estabiliza-se quando ele retira os Sentidos (Gñanendriyas ou sentidos cognoscitivos) dos objetos que lhe produzem sensação - assim como a tartaruga recolhe seus membros debaixo de seu casco.”

CAPÍTULO V - 24: “Aquele que em sua vida, e durante o alinhamento dos veículos (Kosha-Sankramanam) ou seja, o processo de elevar a consciência por meio do Yoga, recolhendo-a está apto para dominar a força gerada pela paixão e pela ira, é um Yukta (Samadhista ou Jignâsu), é um aspirante Bem-aventurado.”

CAPÍTULO VII - 14: “Aqueles aspirantes que diferenciam o Princípio de Vida da Matéria, que superaram a egoísta perspectiva, que são versados na Ciência do Princípio de Vida, executando ações sem apego a seus resultados, liberados das dualidades que geram prazer e dor, e, portanto, sendo conhecedores do Átma como a Causa de Tudo, alcançam a Imutável Morada.”

CAPÍTULO VI - 6: “Ó tu, de grandes façanhas!, o aspirante que entende, por meio dos Tatwas, a mútua relação entre Sankhya ou multiplicidade, e Yoga ou Unidade, não se identifica com o fruto da ação, sabendo que as causas das ações se resolvem indubitavelmente em suas conseqüências.”

CAPÍTULO VI - 13: “Oh Dhananjaya! ( Arjuna), todos estes atos de criação não Me prendem; dirijo-os desapegadamente, permanecendo como testemunha imperturbável.”

CAPÍTULO VI - 7: “Aquele que possui uma natureza (ou Mente) livre de egoísmo, cujo conhecimento é discernente, ainda que funcionando neste Tríplice Samsara (Mahat, Manas e Indriya) ou Processo do mundo (Samsara), atuando como se nada fizesse, não fica atado por suas ações.” (Naishkarmya ou desapego ao fruto da ação).

CAPÍTULO XX - 19: “O aspirante que segue os ditames da paixão, por seguir o que ela ordena, perde o discernimento átimico; porém aquele que domina todas as paixões, consegue eliminar qualquer pequena mancha de Rajas (motivação pessoal) que possa subsistir.”

CAPÍTULO XXV - 10: “O Supremo Êxtase advêm ao Yogue cuja Mente está pacificada, cujas paixões estão dominadas, e que está livre de debilidades; assim ele está afinado com a Natureza Brâhmica.”

CAPÍTULO XXV - 22: “Sendo o aspirante de natureza Brâhmica (transcendente), e agraciado com discernimento átmico, não se aflige nem se apaixona; compreendendo a Imanência Brâhmica em toda a criação manifestada, ele alcança Meu supremo afeto.”

CAPÍTULO XXV - 25: “Sintetizando n’Ele todos os Dharmas evolucionários, busca o Único Brahm (Ekam) e Sua Suprema Shakti(MA ou Poder Divino Feminino), Eu, como o Ishwara (Atma) que reside no coração, liberta-te-ei de todos os pecados (Papa) e dos méritos temporais (Punya). Não sucumbas oprimido pela tristeza!”

CAPÍTULO XX - 20: “O aspirante cuja única alegria é a Realização Espiritual, cuja Mente alcançou a tranqüilidade (Livre de objetivo passional), e que encontra o êxtase no Atma (Princípio de Vida), para ele não existe fruto de ação, ocupando-se sempre impessoalmente em atos necessários e legítimos.”

CAPÍTULO XXIV - 12: “Aquele que, com a Mente bem disciplinada, mantém-se sereno em meio às dualidades de calor e frio (contato dos sentidos), de prazer e dor (contatos da Mente Emocional), como também de censura e elogio (contatos cognoscitivos), está bem próximo de alcançar a Graça do Grande Princípio de Vida.”

CAPÍTULO XXIV - 15: “O aspirante que percebe o Princípio de Vida (Atma) residindo no amigo, no ser amado, nos Sábios, nos estranhos que lhe são indiferentes, no neutro, no inimigo, nos parentes, como também naqueles que têm e nos que não têm discernimento átmico, logra excelência em sua atuação no processo do mundo (Samsara).”

CAPÍTULO XXV - 5: “Como as águas penetram no oceano imenso, simbolizando a plenitude que nunca decresce, assim aquele, no qual todos os desejos são neutralizados, alcança a suprema paz – não sucede o mesmo com aquele que alimenta ideação passional.”

 

4. LIBERTAÇÃO: DEDICAÇÃO A DEUS

“Oh Tu, Protetor! Oh Tu, Profeta! Oh!, Senhor do Dharma! Oh Vidente! Oh,Criador! Arrecadaste de todas as galáxias juntas os raios mais radiantes! Assim eu pude contemplar Tua Fascinante Forma Resplandescente! Desde então o Purusha (a Suprema Forma Espiritual) é VERDADEIRAMENTE meu próprio “Eu” – o Conhecedor – e não apenas “EU”, o protagonista (ahamkara).”

Isavasya Upanishad/ Mantra 16

CAPÍTULO XXIII - 22: “O Senhor da Criação (Brahma), criando todos os seres desde o princípio, e dotando-os com instintos de dedicação, declarou: –“Aumenta tua felicidade por este meio (praticando todas as ações desinteressadamente, dedicando seus frutos à Divindade), deixa que este proceder seja o doador do seu bem-estar.”

CAPÍTULO XXIII - 24: “Com a Mente absorta em Mim, sê tu Meu devoto, e rendendo-te a Mim, dedica a Mim todos os teus atos. Com este proceder, podes estar absolutamente certo de que Me alcançarás, Eu te asseguro, a ti que és Meu bem-amado.”

CAPÍTULO XXIV - 24: “Ó Pândava!, aquele que dedica a Mim suas ações, que Me conhece como o Supremo, sendo Meu devoto, desapaixonado, sem odiar a nenhum ser, posto que Eu em todos eles habito, chega a Mim.(Atma)”

CAPÍTULO XXVI - 7: “A execução das ações com discernimento átmico (Swadharma), tanscendendo a influência trigúnica, supera as ações que, embora sejam bem executadas, estão sob a influência das Trigunas (Paradharma) nascidas da Matéria (Prakriti). As ações dedicadas à Divindade culminam na liberação da escravidão conduzindo à Bem-aventurança, enquanto que a outra forma de atuar (isto é, sem a devida dedicação) está cheia dos perigos advindos do nascimento e da morte (e das conseqüentes limitações e males advindos da ignorância).”

CAPÍTULO XXVI - 8: “Os aspirantes que estão constantemente de acordo com a Minha Lei (Suddha Dharma), inspirados com fervor átmico (Shraddhá) e livres de inveja, são liberados da escravidão das ações.”

CAPÍTULO XVII - 9: “O aspirante, que atua no processo do mundo (Samsara) sem apegos, dedicando a Brahman todos os frutos das ações necessários, não fica atado por seus efeitos – sejam elas errôneas ou meritórias – tal como a folha de lótus que não é umedecida pela gota de água que repousa sobre ela.”

CAPÍTULO XIII - 21: “Transcendendo a influência de Satwa (Prakasha), Rajas (Pravritti) e Tamas (Moha), o aspirante, ó Pandava!, não repudia a execução do que lhe corresponde fazer como ato necessário, nem aceita o não cumprimento por ele da ação necessária.”

CAPÍTULO XXIV - 23: “Sendo devotado ao Princípio de Vida por meio da dedicação dos frutos de todas as ações, sejam estes frutos auspiciosos ou não, serás liberado de sua escravidão kármica; sendo assim liberado, tu Me alcançarás.”

CAPÍTULO XIX - 5: “O aspirante, com transcendente discernimento de purificado Entendimento com Mente e Sentido dominados, compreendendo que tudo é da natureza de Brahman, ainda que esteja ocupado na ação, não está sujeito à sua escravidão.”

CAPÍTULO XVI - 18: “Os Santos, que praticam as ações dedicando-as à Divindade, são liberados de todas as debilidades; porém aqueles de limitado entendimento, que se esforçam para seu próprio proveito (sem fazer tal dedicação à Divindade), verdadeiramente ficam atados por seus atos (Papa e Punya)”.

CAPÍTULO II – 17: “Eu Sou, aqui sempre, alcançável através da ação impessoal executada com verdadeiro discernimento e com o coração pleno de ardente de devoção (Shraddhá) a Mim.”

CAPÍTULO XVII - 18: “E se ainda não tiveres forças para fazer isso, sendo devotado a Mim, então, com Mente desapaixonada, renuncia a todo fruto da ação.”

CAPÍTULO II - 25: “Portanto, através da transcendental compreensão espiritual, qualquer pessoa de elevado conhecimento (inegoísta), e profunda devoção e empenhada em ações impessoais, alcança a Realização, entrando naquele Estado no qual já não se aflige nem tampouco se regozija.”

CAPÍTULO X - 2: “Minha Shakti (Maya, governando o processo do mundo – Samsara) Daivi, Esha e Gunamayi é difícil de ser sobrepujada. Aqueles que se rendem a Mim (MA Brahma Shakti ou Shakti de Síntese) transcendem a influência da tríplice Shakti.”

CAPÍTULO XXVI - 7: “A execução das ações com discernimento átmico (Swadharma), transcendendo a influência trigúnica, supera as ações que, embora sejam bem executadas, estão sob a influência das Trigunas (Paradharma) nascidas da Matéria (Prakriti). As ações dedicadas à Divindade culminam na liberação da escravidão conduzindo à Bem-aventurança, enquanto que a outra forma de atuar (isto é, sem a devida dedicação) está cheia dos perigos advindos do nascimento e da morte (e das consequentes limitações e advindas da ignorância).”

CAPÍTULO XXVI - 8: “Os aspirantes que estão constantemente de acordo com a Minha Lei (Suddha Dharma), inspirados com fervor átmico (Shraddhá) e livres de inveja, são liberados da escravidão das ações.”

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